domingo, fevereiro 03, 2008

Cloverfield (2008)

Nova Iorque. Um grupo de jovens organiza uma festa de despedida para Rob, um amigo de longa data que vai trabalhar para o Japão nos dias que se seguem. Hud, o melhor amigo de Rob, está de máquina de filmar em punho a documentar tudo o que se passa, desde os testemunhos de despedida, à melancólica discussão entre o seu amigo e a ex-namorada. De um momento para o outro, um súbito e violento estrondo - como se de um tremor de terra se tratasse - acaba com a animação. Dirigem-se ao topo do edifício e dão conta que Nova Iorque está sob ataque. Do quê? Não fazem ideia, mas sabem que podem nem sequer conseguir sobreviver para o descobrirem. Mas haverá ameaça neste planeta que suplante o amor de Rob por Beth?

Por onde começar? Porque não pela mistela mais proferida das últimas semanas em todo o Mundo: "Cloverfield" é uma junção do estilo artístico de "The Blair Witch Project" - filmagem amadora - e da essência destrutiva de "Godzilla" - onde um monstro gigante anda à solta, abalroando arranha-céus e cimentando o pânico entre milhões. No entanto, e já que estamos numa de o comparar a obras que marcaram o cinema - para o bem ou para o mal -, podemos ainda afirmar com todos os dentes que "Cloverfield" emana o pânico e o pavor que Spielberg não conseguiu passar com o seu "War of the Worlds" ou ainda que "Nome de Código: Cloverfield" está para esta década, como "Jurassic Park" esteve para a de noventa. Isto porque ambos conseguiram provar que a indústria de massas ainda não esgotou a sua criatividade e originalidade, produzindo um produto que origina o seu próprio sub-género, reinventado conceitos e concepções, repetindo fórmulas - monstro ataca, pessoas morrem, todos fogem, alguns escapam - de modo inovador, segundo novas perspectivas. No entanto, e tal como acontecera com "Parque Jurássico", ambos poderiam ter sido mais. Muito mais.

Revigorante? Sem dúvida. Vertiginoso? Óbvio. Abordagem tão rara como extraordinária? Irrefutável. Narrativa dramática previsível, quase idílica, algo redundante, e com uma mão-cheia de cenas desnecessárias? Infelizmente, sim. Nada que arruíne a nobre intenção de Matt Reeves em dotar "Cloverfield" de uma dimensão poética e lancinante, rara no género, que nos deixa a torcer pelo herói, como se fôssemos a personagem por detrás da máquina, parte do filme e da acção. Com uma evidente conexão ao 11 de Setembro - tanta pela desorientação das pessoas perante o impossível, como por alguns dos diálogos e imagens que marcam o "combate -, ao "América versus Mundo" - ou não fosse Cloverfield um anagrama de "Love Fidel C." - e à incapacidade de qualquer império ou nação perante o imprevisível, "Nome de Código: Cloverfield" é, nas suas bases, um contra-senso tão colossal como delicioso, que junta a suposta balbúrdia e algazarra da destruição maciça e dos seus milhões de dólares, à intimidade sublime de qualquer produção independente de Sundance.

Repleto de mistérios, quase todos deixados sem respostas, e uma carrada de pequenos (mas fabulosos) pormenores - como o "splash" final na praia, que juntamente com as declarações do realizador, dão a entender que o monstro veio do espaço e não passava de um recém-nascido, ou, por exemplo, o facto de as gravações começarem às 6:42 do dia 22 de Abril e acabarem, precisamente, às 6:42 do dia 22 de Maio - "Cloverfield" é, como alguém o disse por aí, "um blockbuster da geração Youtube". Um filme de massas, na primeira pessoa, que mesmo com tanta astúcia e engenho lá pelo meio, não conseguiu evitar o truque um dia genial, agora rasca, da visão nocturna. Pormenores e por maiores que o fazem oscilar durante oitenta minutos entre o prodigioso e o banal. Ditosamente, a balança acaba por pender para a genialidade de Reeves, Abrams e companhia.

15 comentários:

Anónimo disse...

"podemos ainda afirmar com todos os dentes que "Cloverfield" emana o pânico e o pavor que Spielberg não conseguiu passar com o seu "War of the Worlds""
aqui é que disseste tudo.
no geral concordo contigo, apesar de não concordar que a história vai parar a lugares comuns assim com tanta facilidade, e penso que o truque da visão nocturna funciona extremamente bem, reforçando a ameaça do desconhecido que se vai abatendo.

P.R disse...

Concordo contigo!
A ideia central do filme é, sem dúvida, muito boa e original. Contudo esgota-se em 40 minutos do filme... E depois... meus amigos, cair de um helicoptero e nao morrer já é ilusao a mais :P

Abraço Knox!

Anónimo disse...

A Ideia deste filme e sempre genial, os seus truques e misterios funcionam muito bem.... mas e ATENÇÃO, este não e um filme para as massas como o foi Parque Jurassico.
Não quero comentar a caida do helicoptro, gostaria apenas de dizer que até um elefante morre com um unico tiro de caçadeira, e perfeitamente "anormal" as bombas que caiem em cima do tal "bicho" pelo menos aqui o Godzilla ganhava a escapar ao tiroteio.

Para muitos nem para a pipoca serve... a invenção e originalidade faz dele um filme mediano.

cumpts.

Anónimo disse...

Pois eu não concordo convosco. Se houve filme que me passou pavor, foi o War of The Worlds. Não sei porque, mas senti-me o filme todo sofocado, neste não me senti, embora o ache maior, e melhor, que o War of The Worlds. Grande filme.

KUHN disse...

O que mais me agradou neste filme para além dos pontos já apontados que são por demais evidentes, é a possibilidade de pegar nele e poder fazer um bela prequela, e montes de sequelas diferentes, no mundo em que vivemos provavelmente o hud não seria o único a usar uma handycam numa situação destas, no entanto iria ser mais do mesmo com outra perspectiva e ha tb a possibilidade de fazer um filme que nos conte a história, pelo menos eu tenho imenso curiosidade para saber mais acerca daquele monstro... tal como no LOST, são perguntas a mais com respostas a menos ás quais gostava de ter resposta agora que o efeito surpresa passou.

Grande abraço IrAo

[[]]KUHN

Anónimo disse...

Em geral tambem concordo contigo, então no ponto do ''war of the worlds'' foi tambem o que eu pensei, apesar de achar que o ''war of the worlds'' tambem consegue passar um bocado de pânico, muito pouco, mas consegue.

O que mais me espantou foi todo o ''trabalho'' feito antes do filme ir para as salas de cinema, todos os ''enigmas'' que foi deixando durante alguns messes criando muitas expectativas que normalmente iriam por agua abaixo, a meu ver no cloverfield não foi o caso.
Tava com as expectativas altas e mesmo assim saí da sala de cinema bastante satisfeito e com vontade de procurar mais algumas coisas na internet.

p.r, não achei tão desperatado o cair do helicopetro e não morrer, eles nem iam a uma grande altitude, existem aviões ou mesmo alguns (muito poucos) para-quedistas que caem de altitudes maiores e mesmo assim sobrevivem.
O unico ponto que a mim me pareceu ''menos real'' foi o Rob ver o irmão morrer e mesmo assim só se preocupar em ligar à beth.. mas pronto, com aquele pânico todo secalhar...

P.R disse...

sim isso também...
foi pouco verosimil

brain-mixer disse...

Ahhh então também gostaste, knox... :P

Anónimo disse...

Excelente critica, Knox! Penso que o filme acabava bem aquando do despenho. Mas a sequência seguinte tb enche o olho! :)
Abraço

Carlos M. Reis disse...

Miguel, o truque da visão nocturna foi uma maravilha imprevisível no Silêncio dos Inocentes, ou mesmo no recente "The Descent". Ali em Cloverfield, mas a personagem anunciou que o ia ligar, deu logo para perceber o que ia acontecer. Foi óbvio demais. Num entanto, é um pormenor insignificante que pode ter resultado com muitos que não o tenham levado no passado. Cumprimentos ;)

P.R, finalmente de acordo :P Heheh! Para mim, o filme tinha terminado em beleza, completamente inesperadamente, com o momento que referes. Até larguei um sorriso... até perceber que, convenientemente, as personagens principais sobreviveram à queda (os militares já é mentira). Um forte abraço!

Nasp, eu acho que é um filme para as massas deste novo milénio: as massas dos telemóveis que filmam tudo, do Youtube e da notícia no minuto. Mas concordo com o teu ponto de vista ;) Um abraço!

Ricardo, aí já não senti o mesmo. Aliás, a indiferença foi tanta durante o War of the Worlds, que acabei o filme com um enorme bocejo. E quando tal acontece num filme com aquela premissa... Um forte abraço!

KUHN, antes de mais, bons olhos te vejam ;) Aparece por cá mais vezes ;) Quanto à sequela/prequela parece-me inevitável. O filme vai render milhões e mais milhões (o seu orçamento até nem foi grande espingarda) e existe essa possibilidade de abordar outros pontos de vista, outra video-camerâ ou mesmo um filme racional pós-ataque (apesar desta última ideia não me agradar muito). Um forte forte abraço!

Cinebust, mas foram essas mesmas expectativas criadas por todo o marketing viral de Cloverfield que acabaram por defraudar muito boa gente. No entanto é admirável como é que um filme com este potencial conseguiu criar tanto mistério até à estreia. Um forte abraço Cinebust!

Edgar, claro que sim. Só não gosto dos teus brain-movies :D :P Ahaha ;)

Mauro, concordo. Mas por acaso para mim, a cena que se segue e que envolve Hud é uma das que era completamente desnecessárias. Vá lá que o final que se seguiu convenceu-me! Um forte abraço!

Anónimo disse...

Com todo o respeito, acham que é pouco verosímel, a sobrevivência ao desastre de helicopetro?
Então, e um monstro enorme, com uns piolhos, a destruir Nova Iorque, será isso verosímel?!!!
A qualidade da câmara, que com várias quedas, e explosões, sempre gravou com excelente qualidade, e o facto da 'fita' ter sobrevivido a uma bomba nuclear, isso é que pode ser considerado, um excesso de 'liberdade criativa'?

Resumindo, gostei bastante, a fazer alguma alteração, provavelmente mostrava menos do monstro, pois a incerteza sobre quem é o causador da destruição, é directamente proporcional ao medo, que o espectador sente...

PS: Normalmente não gosto de filmes com monstros, mas nas ultimas semanas vi o Cloverfield, e em video, vi o Coreano, Host, e também gostei !!!...

Carlos M. Reis disse...

Abidos, percebo claramente o teu ponto de vista. Mas a questão é que ao entrarmos já sabemos que pagamos 5 euros por um monstro impossível ;) Quanto às alterações, completamente de acordo. Cumprimentos!

Flying Dutchman disse...

Knox, antes de mais: excelente comentário!
Acabei de ver o filme, surpreendeu-me pela positiva! Achei "refrescante" ver um filme onde apesar de haver uma ameça, não se ver NSA, CIA, FBI ou FEMA's a correr pelo meio e salvando a cidade. Vemos algumas coisas impossiveis/improvaveis ao longo dos 80 minutos, mas tal como referiste, já sabemos que isso vai acontecer de antemão!
Achei que a tecnica de filmagem resultou muito bem, ao contrário do que estava `a espera (como podes ver, as minhas espectativas eram quase nulas...)
Gostei =)

Abraço Knox

Carlos M. Reis disse...

Grande Dutch, obrigado ;) Tenho pena que não tenhas apanhado o filme no cinema. É daquelas experiências que perde muita força fora da sala de cinema ;) Um grande abraço.

Rafael disse...

"Nada que arruíne a nobre intenção de Matt Reeves em dotar "Cloverfield" de uma dimensão poética e lancinante, rara no género, que nos deixa a torcer pelo herói"...


Eu sempre torci pelo herói.

Abraços!!

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