Da aposta arriscada nasceu uma das franchises mais rentáveis do novo milénio. Com um orçamento limitadíssimo de um milhão de dólares, repartido quase na totalidade entre os nomes mais sonantes do elenco – Danny Glover, Cary Elwes e Monica Potter, contratados para dar alguma credibilidade ao filme -, “Saw” acabou por render, apenas nos cinemas, mais de cem milhões de dólares em todo o mundo. Mundo esse que se exaltou com um psicopata sem igual, que orquestrou um verdadeiro puzzle sangrento em contagem decrescente. Com nomeações – entre elas a do Fantasporto para Melhor Filme -, prémios e elogios a aparecerem dos quatro cantos da indústria, Wan rapidamente se tornou num dos nomes mais apetecíveis no mercado. Mas audaz e sensato como sempre, sabia que o seu próximo passo seria fundamental para a sua afirmação e reputação.
Por isso mesmo, recusou a realização das sequelas de Saw e só três anos mais tarde voltou ao grande ecrã com “Dead Silence”, um filme que revisitou os ventríloquos que o haviam enamorado enquanto criança. E mesmo sendo este um conceito visto e revisto no género, James Wan conseguiu surpreender a audiência com um twist final absolutamente inesperado. Infelizmente, a distância que a ideia central do filme oferece à realidade, fez com que a obra não atingisse o impacto emocional e reactivo de “Saw”. Como consequência, a dúvida instalou-se: seria Wan apenas fogo-de-vista?
A resposta veio juntamente com “Death Sentence”, um thriller de vingança onde Kevin Bacon assiste à morte do filho e decide fazer justiça pelas próprias mãos. Inspirado no estilo gráfico da década de setenta e em “The Crow”, um dos seus filmes favoritos, Wan constrói como poucos uma personagem guiada pela raiva, multi-facetada, num registo real e violento, onde as armas não são motivo de diversão para a plateia, mas de angústia. Com um par de cenas executadas na perfeição – como a da perseguição a pé no parque de automóveis -, “Death Sentence” peca apenas pelo seu final desinspirado, que contraria e arrefece a restante fita. No entanto, com trinta e um anos de idade, as dúvidas ficaram desfeitas: Wan não é mais uma incógnita.
N.d.r: Artigo publicado na revista Take.
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