O seu futuro estava em risco. Realizadores brilhantes que não lucram nas bilheteiras são como camarão caro a servir de isco para peixe-porco. Era preciso ser mais comercial, sem perder aqueles carimbos criativos que fugiam às regras de Hollywood. “The Sixth Sense”, filme que entretanto começara a filmar antes da estreia do flop atrás referido, seria muito provavelmente a sua última oportunidade. A própria Disney, que detinha os direitos iniciais da história – também ela escrita por Shyamalan -, vendeu imediatamente a mesma à Spyglass Entertainment por pouco mais de um milhão de dólares, prevendo um novo falhanço nas bilheteiras do realizador indiano. Erro tremendo: o talento de Night aliado às fantásticas interpretações de Bruce Willis e do desconhecido jovem actor Haley Joel Osment garantem nada mais, nada menos do que seiscentos milhões de dólares na box-office mundial. Nomeado para seis Óscares da Academia, “Sexto Sentido” catapultou o jovem realizador indiano para a ribalta. E é nesta altura que surgem as primeiras comparações com o seu ídolo de infância. Aquele que havia orquestrado o seu filme favorito: “Os Salteadores da Arca Perdida”.
Seguiram-se “Unbreakable” – que semeava pela indústria outra das suas paixões, a banda-desenhada -, “Signs”, “The Village”, “Lady in the Water” e o recentemente estreado em Portugal, “The Happening”. Todos eles especiais, mas nem todos unânimes perante a crítica. Cada um deles suficiente para mil e uma linhas nesta rúbrica, nenhum deles certamente desconhecido desta audiência que mereça honras de ofuscar outras trivialidades ignoradas pela público mais distraído. E são muitas, como o facto de “Die Hard” ser o seu filme favorito de acção e “The Exorcist” o seu predilecto de terror. Dos twists aos ângulos únicos dos seus planos, Shyamalan é um realizador portentoso com um poder narrativo complicado. A sua eficácia enquanto maestro nem sempre se verifica enquanto compositor, sendo substítuída unicamente pelo carácter original e intrigante das suas ideias.
Usa quase sempre Filadélfia como pano de fundo e gosta de colocar as personagens a reflectir perante objectos. Incide em indivíduos ou acontecimentos dotados de características extraordinárias e cria sempre ligações narrativas a crianças. Gosta de fazer de Hitchcock – não só na forma como cria a incerteza do momento, mas também nas curtas participações que faz nos seus filmes – e utiliza caves e arrecadações sombrias para amedrontar o espectador. Aprecia “takes” longos nos seus diálogos e atribui ao vermelho quase todas as pistas cruciais das suas obras. Pequenos pormenores – passe a redudância - que lhe conferem um estatuto de culto, a ser confirmado no Verão de 2010 com a adaptação cinematográfica de “Avatar: The Last Airbender”.
N.d.r: Artigo publicado em Agosto na Revista Take.
2 comentários:
Avatar: the last airbender é uma série de desenhos animados americana com aspecto anime sobre artes marciais, não é?
Mas, Avatar, também é o novo projecto de James Cameron em 3D, não é?
Eu sou, como já aqui fiz questão de afirmar, um dos grandes apoiantes de Night, até hoje, tenho que dizer que os meus filmes preferidos da sua autoria são o lady of water e o The vilage, por isso, mesmo que a crítica diga mal e os filmes acabem em maiores ou menores flops, eu lá estarei, numa salinha escura á espera de entrar numa montanha russa com 'Twist' final.
Ricardo, sim. Uma pesquisa no google e encontras logo várias imagens ;)
Avatar, só Avatar, sim, é o próximo filme de Cameron, que já está em execução à alguns anos e que, por isso mesmo, deve estar uma bomba. Quanto ao Shyamalan, não perco um no cinema. É um realizador obrigatório para mim, até porque filma como poucos. Mesmo quando a história está mal desenvolvida. Um abraço.
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