Will Proudfoot é um rapaz com uma originalidade criativa desmedida. O seu caderno, onde página após página esboça alguns desenhos que, em sequência, narram uma breve história, é exemplo maior disso mesmo. No entanto, Will vive sobre a alçada de uma família extremamente religiosa, que lhe interdita o acesso à televisão, ao cinema e a todas as restantes tentações do mundo moderno. O controlo é tão restrito que, mesmo na escola, Will é obrigado a sair da aula sempre que um documentário é passado na sala de aulas. E é numa dessas ocasiões, quando espera no corredor pelo fim de um visionamento, que conhece Lee Carter, um dos mais problemáticos rufias da escola. Entre artimanhas e ciladas de Carter – que precisava de alguém que o ajudasse num vídeo caseiro que pretendia mandar para um concurso da BBC -, Proudfoot acaba por ir passar a tarde à abundante mansão do “novo amigo”, onde vê pela primeira vez um filme: uma cópia pirateada de “First Blood”. Enamorado de imediato pela Sétima Arte, decide encarnar o herói da fita e ajudar Lee Carter no seu “filme”.
“Filho de Rambow – Um Novo Herói” é uma obra encantadora mas também infantilmente desequilibrada. Com vários altos e baixos na sua linha narrativa – tanto somos presenteados com vários momentos de genialidade, como com alguns períodos ligeiramente prolongados de aborrecimento, com pouca substância que realmente contribua para o desenrolar dos acontecimentos ou para o estudo das personagens –, o britânico Garth Jennings volta a evidenciar algumas das lacunas estruturais que marcaram pela negativa a adaptação cinematográfica de “The Hitchhiker's Guide to the Galaxy”, a sua primeira experiência de realização. No entanto, a forte premissa de uma odisseia juvenil na era do VHS – e quantos de nós não nos identificamos com os desejos e as motivações da personagem principal – e um conceito artístico bem trabalhado, que mistura, por variadas vezes e de forma eficaz, a acção real com o mundo da animação asseguram que a verdadeira alma de “Son of Rambow” prevaleça sobre as eventuais falhas da fita.
Ainda para mais, ou muito me engano ou “Son of Rambow” será posteriormente recordado como o filme que lançou para as feras uma estrela do cinema britânico: não o principal Bill Milner, algo inseguro na primeira metade da obra, mas sim Will Poulter, que, apesar de interpretar uma personagem problemática, consegue conquistar o coração da audiência e executar na perfeição as transições entre as suas facetas ambivalentes de brigão e de “companheiro de sangue”. Esta sua auspiciosa performance de estreia valeu-lhe já inclusive um importante papel no próximo capítulo cinematográfico de “The Chronicles of Narnia”. Em suma, e apesar do caminho algo acidentado, o delicioso final da obra conquista os mais nostálgicos e justifica alguma sobrevalorização por parte da crítica virtual – território da geração da cassete pirata.
3 comentários:
Aquele final é algo de especial.. :)
E já agora, também adorei o rufia. O papel dele foi brilhante!
Luís, sem dúvida. O "rufia" tem futuro! Um abraço.
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