Numa reinvenção ousada, divertida e complexa do detective britânico Sherlock Holmes e do seu fiel parceiro Watson, Guy Ritchie explora de forma equitativa tanto os dotes físicos excêntricos de Holmes, como a sua excelsa inteligência, sempre atenta ao mais pequeno pormenor de qualquer caso bizarro. E quando se adapta a personagem fictícia mais interpretada na história da indústria televisiva e cinematográfica mundial - quem o diz é o livro do Guinness, que aponta para mais de setenta actores em cerca de duzentos filmes e séries de televisão – era mesmo preciso que Ritchie se destacasse e elevasse a sua obra e as famosas personagens da Baker Street a um nível totalmente diferente do habitual. E não há dúvidas que tanto o atrevimento do realizador inglês como a astúcia de Robert Downey Jr. foram mais do que suficientes para tal. Com sucesso narrativo e com êxito nas bilheteiras.
Mas será esta reacção de satisfação consensual? Obviamente que não. Um pouco por todo o lado, fãs da personagem acusam Ritchie de blasfémia. Ver Holmes de peito à mostra, ensanguentado, a correr entre explosões, certamente que não poderia agradar a gregos e troianos. “Não é essa a sua natureza”, afirma a maioria. Mas não será mesmo? Uma leitura atenta e cuidada a todas as obras de Holmes escritas por Doyle descrevem um detective adepto do boxe, mestre em várias artes marciais e especialista em lutas de espadas. Porque temos quase todos então uma imagem de Holmes vestido com um sobretudo, calmo e sereno, de cachimbo na boca e que, quanto muito, andará a cavalo na sua mais louca investigação? A resposta parece-me estar nas tais centenas de adaptações cinematográficas e televisivas que o rotularam dessa maneira. Por isso, e seguindo o arrojo de Holmes, resta afirmar: elementar, caro Ritchie.
Não estamos perante um filme perfeito, obviamente. Há diversas falhas naturais, muitas delas derivadas da transformação blockbusteriana das investigações de Holmes e Watson. Pequenos detalhes aos quais é impossível escapar quando o objectivo é transformar um detective num super-herói. Downey Jr. está soberbo na personagem, dando-lhe um toque pessoal e de classe na sua metamorfose heróica. Jude Law não aquece nem arrefece enquanto Watson e é Rachel McAdams quem sobressai num plano secundário, sendo que Mark Strong cumpre enquanto vilão – talvez a preparar-se, segundo indicam os últimos rumores, para continuar no mesmo registo em “Green Lantern”. De resto, registo para uma interessante banda-sonora, tão atrevida quanto a adaptação de Ritchie.
7 comentários:
Excelente experiência no cinema.
Eu não acho que Mark Strong não cumpre, acho que tem uma prestação muito interessante.
A voz dele no Cinema City de Leiria ate arrepiava :)
E eu que tinha ido ao cinema para ir ver o Avatar, acabei a ver esta bela surpresa :)
cumps,
ramitos
Concordo com tudo o que dizes.
É de facto uma reinvenção de Holmes muito bem conseguida.
Robert Downey Jr. encontra neste filme, uma personagem extraordinária para poder exercer todas as características únicas que apresenta enquanto actor, criando um excêntrico e genial Holmes que com uma mente tão ímpar torna-se até um excedente de uma sociedade com maneiras e certas formas de estar.
Já Jude Law consegue transformar um papel que podia simplesmente ser de um simples sidekick, numa personagem essencial à dinâmica do próprio duo, conferindo uma preponderância em todos os acontecimentos da obra.
O que continuo a não entender é como todos se revoltam contra esta adaptação, referindo que este não é de todo o Sherlock Holmes dos livros.
Na minha opinião, claramente, "this is not your father's Sherlock Holmes", mas isso não significa que não seja de facto aquele que está presente e retratado nos livros e a ideia de que tínhamos da personagem seja de facto uma deturpação, em certa medida.
Aguardo com muita expectativa futuras sequelas, se possível com todos os envolvidos no primeiro de volta (como parece já estar confirmado). Ritchie esteve soberbo na realização!
Abraço
Ora pois não podia concordar mais! Aqui fica a prova... http://ruiredcarpet.blogspot.com/2010/02/justice-he-said.html
O que este filme tem de melhor é mesmo a inegável harmonia entre Robert Downey Jr e Jude Law...
Bem, aqui parece que estamos todos de acordo, mas tenho ideia que a reacção geral aquando da estreia não foi assim tão consensual.
Obrigado a todos pelos valiosos comentários. Gostei de conhecer o seu blogue rui. Daniel, quanto a sequelas, também acredito que serão inevitáveis.
Cumprimentos!
Não, não estamos todos de acordo... Valeu de facto por Downey e Law, simplesmente.
O novo Sherlock Holmes realmente realçou um nova imagem à personagem de Sir Doyle, no entanto, o filme não passa de pura entretenimento, rápidos diálogos e típicas cenas estareotipadas de Hollywood!
Abraço
http://nekascw.blogspot.com/
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