domingo, maio 22, 2011

Take - 2 Anos de Missões Impossíveis (III/VI)

Num ano em que o futuro da Take passou de incógnita a miragem, de sonho individual a ilusão colectiva, aproveito esta altura conturbada do blogue para relembrar o trabalho fantástico que foi realizado desde a génese da revista até ao segundo aniversário da mesma, num artigo publicado na Take 22, de Março de 2010. Porque, aconteça o que acontecer de agora em diante, foi um orgulho enorme fazer parte deste projecto ambicioso e original.


Take - 2 Anos de Missões Impossíveis (III/VI)


Publicidade

Não a temos agora nem nunca a tivemos no passado. Não por casmurrice, não por uma qualquer ideologia pateta, mas porque nunca soubemos nem tentámos entrar nesse mundo, com medo de nos vermos presos a responsabilidades de timings e publicações garantidas, algo que, num formato de trabalho como o nosso, não poderia nunca ficar preto no branco. Pode parecer mentira, mas cada número da Take é uma vitória. Nunca há certezas se a próxima edição será no mês seguinte ou dois meses depois, bimensal. Mas a triste e dura verdade é que nos custa olhar para outras publicações online que aparecem a toda a hora – e pouco depois desaparecem, por serem apenas mais uma -, certamente com estatísticas de visitas aberrantes quando comparadas com as nossas, terem, desde o seu primeiro número, toneladas de publicidade. Páginas e páginas que provavelmente valem muito dinheiro, ainda para mais quando não há custos de impressão e distribuição associados. Resultado disso, muitos nos dizem que é uma estupidez estarmos há dois anos sem aproveitar e rentabilizar o nosso produto. Talvez seja. Mas como pedir a quem já faz de director, fotógrafo, ilustrador, paginador, “passatempista” (e se vocês soubessem o trabalho e o tempo que cada passatempo rouba, davam em doidos), entre muitas outras funções, que ainda se preocupe com contactos comerciais? Não dá para mais. Há por aí algum expert na área, com os contactos certos, que queira ficar com uma percentagem dos lucros da publicidade na revista e tratar do assunto sozinho? Oferecemos, de borla, o cargo de director comercial da Take. Ordenado zero. Contrato por objectivos? Aliciante.

Editor Desaparecido

Tinha acabado de sair a Take 6, de Agosto de 2008, com o meigo Wall-E na capa. Estava na altura de começar a fechar os conteúdos da edição seguinte. Bruno Ramos, também conhecido como Alvy Singer na blogosfera cinematográfica nacional, era o nosso fiel editor desde o primeiro número da revista, dono de um talento único em tão jovem idade para escrever de forma apaixonada e erudita sobre cinema. Os e-mails entre director e editor não eram respondidos e os telefonemas estranhamente não eram atendidos nem as chamadas respondidas de volta. O que se passaria com o Bruno? Estaria doente ou fora do país? Uma coisa era certa, a Take não podia parar, pelo que o director me pediu para pegar no leme e organizar a edição de Setembro. No entanto, a resposta da ausência de Alvy poucas semanas depois foi clara para nós: a Premiere estava de volta às bancas nacionais e o nosso antigo editor era um dos novos colaboradores da histórica revista. Para nós, tudo bem, a mudança era mais do que natural e o convite certamente tentador e irresistível. Numa divertida analogia, era tal e qual a transferência recente de João Pereira do Braga para o Sporting. O Braga é que era o líder do campeonato, com mais de uma dezena de pontos de avanço para o Sporting, mas o clube de Alvalade não deixa de ser um grande, certamente com melhores condições e com mais projecção para a sua escrita. Aliás, para nós, era até uma prova de que o seu trabalho na Take era admirado e respeitado pelo meio que nos rodeia, de uma qualidade ímpar em Portugal. Era na Take e é hoje na Premiere, onde Bruno é crítico, é Criswell, escreve antevisões, actualiza sozinho o blogue e orquestra os melhores artigos originais da revista. Ele, sozinho, é meia Premiere, tal como antes era meia Take. Mas Bruno, se nos lês agora, não era preciso rescindir contrato, ou seja, sair em silêncio total. Nós teríamos percebido e sido os primeiros a desejar-te a melhor sorte do mundo nessa tua nova aventura. E em jeito de provocação, caro amigo, perdemos um grande jogador, mas o Braga continua à frente do Sporting.

Premiere: Concorrência?

Não. De uma vez por todas, não. É sim, uma alternativa. Uma alternativa de qualidade. Uma revista com alguns colaboradores fantásticos que escrevem sobre cinema como poucos em Portugal. Não refiro nomes, pois seria certamente injusto para outros que ficariam de fora por raramente ter lido na revista algo deles. E é exactamente isso que sempre nos chateou na Premiere: a linha editorial de José Vieira Mendes prefere traduzir o que vem de fora em vez de puxar pelo talento dos que habitam na sua ficha técnica. Mês após mês, quase todos os artigos de fundo são escritos por estrangeiros – na sua maioria da congénere espanhola Fotogramas. Se a tradução de entrevistas era completamente compreensível, para quê ter uma equipa de geniais escribas se bastava um par de bons tradutores? E, caros amigos da suposta “concorrência”, se sequer nos damos ao trabalho de vos dar atenção neste artigo que comemora o nosso, repito, o nosso aniversário, é porque queremos o vosso bem. Honestamente. Mais e melhor de vocês por uma revista de cinema ao nível das melhores que existem por essa Europa fora. Para o vosso bem, mas também para o bem de todos nós, cinéfilos portugueses que acreditamos que não somos assim tão pequenos e insignificantes. Tão plantados à beira-mar que nem sequer conseguimos ter algo verdadeiramente original, criativo, interessante e/ou divertido escrito por nós, portugueses. Porque, pelo menos para nós na Take, a piada está aí mesmo: entrevistar uma qualquer estrela e perguntar-lhe o que bem nos apetece, seja essa barbaridade o que lhes vêm à cabeça quando pensam em Portugal ou uma paixoneta cinematográfica que tiveram enquanto miúdos. Ou fazer um “top 10” ou um qualquer outro artigo criativo e colocar lá os filmes que nós verdadeiramente achamos que merecem lá constar, e não os que um espanhol qualquer achou na sua cabeça que lá deviam estar. Por alguma razão, todos os leitores da revista adoram a rubrica do Criswell desde sempre. Porque é a mais honesta, original e, acima de tudo, autêntica. Porque é de um cinéfilo português para outro. Depois existem outras questões: com tantos realizadores históricos em Portugal, como é possível que a única revista portuguesa de cinema no mercado nunca tenha feito uma entrevista de fundo com nenhum deles, oferecendo-lhes honras de capa e várias páginas no seu interior? Como é que Manoel de Oliveira é capa lá fora mas nunca o foi na única revista portuguesa de cinema? A resposta é dura mas merece ser dita: a entrevista não vem de Espanha ou de outro país qualquer para traduzir. Acreditem, não dizemos isto para vos provocar ou por pura má-língua. Escrevemos isto sim para vos espicaçar. E de uma vez por todas, aos nossos leitores, a Premiere não é nossa concorrente, pelo que o nosso objectivo não é ser melhor ou pior que a Premiere. É sim ser uma alternativa. Revistas como a nossa, adoraríamos que aparecessem muitas mais. Nas bancas ou online. Não olhamos para ninguém como concorrência, até porque não acreditamos que um cinéfilo que se preze escolha entre revistas. Creio que todos nós na Take compramos a Premiere religiosamente mês após mês. Outros, como eu, ainda trazemos para casa a Empire, a Total Film, a Sight&Sound e a Film Comment sempre que as encontramos. Porque uma revista de cinema não é como um clube de futebol. Cinéfilo que se preze, gosta de todas e de todas elas espera o melhor. Quantas mais melhor. E quanto melhores elas forem, perdoem-me a redundância, melhor ainda.

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