Filha única, Natalie Hershlag – nome de nascimento – sempre teve uma personalidade vincada. Interpretando quase sempre personagens inteligentes e maturas, também na vida real Natalie impõe-se pela ponderação que coloca em todas as suas opções pessoais, sociais e profissionais. “Prefiro ser esperta a ser uma estrela de cinema”, afirmou Portman um dia sobre a questão da alienação escolar que assombra as novas gerações de actores em Hollywood. Precoce intelectualmente, com queda para a matemática, “já que há sempre uma resposta”, Natalie é ainda uma activista nata, envolvendo-se directamente em causas ambientais e político-sociais, como foram exemplo os gorilas do Ruanda ou as campanhas pessoais contra a pobreza em países como o Uganda, a Guatemala ou o Equador. Democrata activa, a vegetariana Natalie fala seis línguas, do hebraico ao espanhol, considera o mergulho um dos seus hobbies favoritos e inspirou ainda, com o seu papel em “V de Vingança”, um grupo de desconhecidos a criar uma banda: “Natalie Portman's Shaved Head”. Actualmente namora com o bailarino Benjamin Millepied, que conheceu na rodagem de “Cisne Negro”, onde este trabalhou como coreógrafo.
Parte fábula, parte thriller psicológico, o “Cisne Negro” do visionário realizador nova-iorquino Darren Aronofsky promete ser um dos mais fortes candidatos a arrecadar os principais galardões cinematográficos neste primeiro trimestre do ano, incluindo os destinados a Natalie Portman. A história centra-se em Nina (Portman), uma bailarina nova-iorquina cuja vida, tal como a de todos os da sua companhia que partilham consigo o palco, está consumida pelos exigentes sacrifícios profissionais, que por sua vez corrompem a sua vida pessoal. A viver com a mãe, também ela uma ex-bailarina que a apoia a cem por cento na sua ambição, chega o dia em que o director artístico da companhia (Vincent Cassel) decide-lhe dar o papel principal numa produção destinada à nova temporada de dança, intitulada “O Lago dos Cisnes”. No entanto, a personagem exige uma bailarina que consiga interpretar eficazmente tanto o Cisne Branco, gracioso e inocente, como o Cisne Negro, sensual e pecaminoso. Sendo perfeita como Cisne Branco, Nina rapidamente percebe que terá que trabalhar muito para conseguir superar Lily (Mila Kunis), outra dançarina que luta pelo papel e que representa todos os atributos pretendidos pelo director para o Cisne Negro. E será nessa batalha paranóica que Nina acabará por perder o controlo da sua mente, das suas emoções e do seu corpo.
Com banda sonora da autoria de Clint Mansell, parceiro habitual de Aronofsky nestas andanças, “Black Swan” será certamente uma autêntica odisseia de sentidos, provocatório na sua mensagem, duro, alucinatório e violento na crueza das suas imagens, romântico e trágico na beleza da sua composição sonora, estilizado e paranóico na montagem de uma obra-prima. Polanski e Cronenberg foram, como sempre, certamente influências, mas o filme, poucas dúvidas restam pelos trailers, será puro Aronosfky: escuro, visceral e chocante. Junte-se à mestria deste grupo o facto de Natalie Portman ter aulas de dança desde os quatro anos, e dificilmente algum de nós terá algum bom motivo para não ir ver “Cisne Negro” a uma sala de cinema.
Artigo originalmente publicado na Take 26, edição de Fevereiro de 2011.
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