quinta-feira, outubro 25, 2012

TCN 2012: Nomeados Crítica de Cinema



As Linhas de Wellington, por Nuno Reis, do blogue Antestreia

"Este filme narra o que se passou em Portugal entre a batalha do Buçaco e a defesa de Torres Vedras. Soldados, meretrizes, freiras e civis, em batalha, em fuga ou escondidos, todos tiveram o seu papel numa guerra interminável. Ao longo de duas horas e meia – não parece tão longo como soa – fazem os possíveis para sobreviver por entre a morte. A visão de Ruiz transposta a filme pela sua viúva não tem magia nem é tão brutal como se esperaria de um filme de guerra, mas não é mau. O filme tenta abarcar um pouco de tudo e não consegue ser completo como se desejaria. Não substitui os livros de História, apenas motiva para os irem procurar. A prioridade foi ir além do conflito que pode ser lido nos livros e mostrar as pessoas. Pessoas, especialmente mulheres, e a batalha que travaram como guerreiras deste Portugal, como líderes de famílias que a guerra reduziu, como vítimas da luxúria dos estrangeiros."


Dersu Uzala, por Jorge Teixeira, do blogue Caminho Largo

" Filme riquíssimo na mensagem, na narrativa, naquilo de que talvez o cinema mais precisa hoje em dia – verdade. Essa verdade é-nos dada através de Dersu Uzala, personagem que dá título ao filme, um homem de idade avançada e de estatura diminuta que vive da e para a natureza, que se movimenta como se da própria estrutura elementar da mesma fizesse parte, o que na realidade até faz. Todo o ser-humano é parte integrante e insignificante de um todo, em perfeita comunhão com o primitivo e selvagem. Dersu é por isso uma personificação de um estado antigo, de uma vivência pré-temporal nostálgica, sábia e experienciada. Tal como ele próprio, com a sua humildade, está constantemente a evidenciar perante a arrogância e ignorância do exército russo e do seu oficial, recém chegados. Facto que este último acaba por perceber passando de imediato a admirar, contrariando assim a tendência, ao ponto de erguer uma amizade sem precedentes e começá-lo a seguir cegamente pelos meandros do desconhecido e da aventura."


The Artist, por Jorge Rodrigues, do blogue Dial P for Popcorn

"Emotivo e enternecedor, infecciosamente alegre, "The Artist" merece ser celebrado, mais não seja porque, talvez sem o próprio filme se aperceber disso, procura replicar no espectador de hoje, de forma incrivelmente astuta, a reacção que o espectador dos anos 20 deverá ter tido quando, ao fim de tanto tempo sem som, os filmes decidiram finalmente ganhar voz. Um pormenor que hoje em dia pode parecer insignificante, mas que depois de mais de hora e meia privado de som, faz toda a diferença."


Tabu, por Inês Moreira Santos, no blogue Hoje Vi(vi) um Filme

"Os diálogos são muito bons, com frases marcantes para a história, e uma narração que diz tudo o que queremos saber, a seu tempo. O argumento, relativamente simples, alia-se de tal forma a aspectos mais técnicos que lhe conferem uma complexidade e beleza a que já não se está habituado no cinema. Para além de ser rodado em 35 mm e a preto e branco, as cenas de Moçambique, presentes em Paraíso, foram filmadas em 16 mm, e deixam-nos ver melhor o grão da película. Mais ainda, nessa segunda parte nunca ouvimos as vozes dos actores jovens, podemos escutar todos os outros sons, como se estivéssemos lá, os pássaros, a água, alguém bater à porta, mas as personagens surgem-nos mudas, sendo a única voz presente a do narrador, Ventura, que nos conta tudo o que aconteceu na sua juventude. Miguel Gomes fez um trabalho de realização excelente, aliado a uma fotografia fantástica e banda sonora que se encaixa da melhor forma em todo o ambiente."


Cape Fear, por David Lourenço, do blogue O Narrador Subjectivo

"É nisto que Scorsese se engrandece, na profunda compreensão do verdadeiro alcance de certos caracteres e atitudes de morais questionáveis, na revelação furiosa do lado mais negro da mesquinhez, da traição e da desonestidade, que devemos evitar quando vivemos em sociedade e estamos em família ou entre amigos, senão o sangue fica nas nossas mãos e podemos ser mais perigosos para nós mesmos que qualquer outro factor externo. Talvez chegar à essência com tanta clareza motive tanta boa interpretação."


Hugo, por Rui Madureira, do blogue Portal Cinema

"A força maior de “Hugo” reside na forma natural e relativamente calculada como capta o fervor dos espectadores. De facto, os cenários são tão maravilhosos e as personagens tão genuínas que o espectador não tem como escapar a um estado de deslumbramento quase instantâneo. Houve já quem dissesse que nas mãos de Scorsese o 3D era arte pura. E de facto assim é. Pela primeira vez desde o épico futurista “Avatar”, o efeito 3D alia-se a uma fotografia apaixonante e a um enredo em crescendo para nos inserir por completo num mundo de magia onde tudo parece ser possível de ser concretizado. A primeira sequência do filme mostra logo por si só toda a genialidade de Scorsese. "



O Cavalo de Turim, por Tiago Ramos, do blogue Split Screen.

"O Cavalo de Turim é um filme sobre um fim. Epitáfio ou não da sua obra, explora o vazio manobrando a câmara como poucos ainda o fazem. Utiliza o som como factor crucial para explorar o que realmente importa: e o que importa não é tanto aquele cavalo castigado (naquele, repito, assombroso plano inicial) como as condições que levaram aquele homem àquele acto. Aqueles minutos iniciais servem para dar entrada naquele casebre temoroso e soturno, pobre e escuro, com o vento lá fora a rosnar, a bater e aqueles seis dias a passar numa sequência de actos monótonos e rotineiros que se revelam uma interessante alegoria (aberta a várias interpretações) sobre o fim, o nada, o vazio, o Ómega, o Apocalipse. Com um trabalho minimalista, onde o diálogo é basicamente ausente e onde o trabalho de fotografia (Fred Kelemen) é composto com todo o pormenor e atenção devido e onde quem na realidade fala é esse vento repetitivamente sinistro assim como o quotidiano daquelas duas personagens, que se assumem de imediato condenadas, o filme é um trabalho imersivo e soberbo, um canto do cisne claustrofóbico e ameaçador."


Albert Nobbs, por André Olim, do blogue Terceiro Take

"Glenn Close oferece uma performance de se lhe tirar o chapéu. Ajudada por uma caracterização incrivelmente convincente, Close transforma-se num homem, quer na voz, quer na postura, quer nas reacções. Mas mais do que se transformar num homem, Close transforma-se num homem que esconde uma mulher por debaixo, uma mulher assustada já quase irreal e pouco presente – o verdadeiro sucesso de Close é ser capaz de mostrar, com apenas um olhar, com um trejeito fugaz, que essa mulher ainda está lá."

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