"No limite, não acredito que se possa ou deva distinguir entre a importância política e a relevãncia estética; tentar fazê-lo é entrar nalguma forma de negação acerca do que é a arte e do que é a política. Esta é uma lição que aprendi nos sete anos e meio que vivi em Paris e em Londres (1969-1876). Quer a arte quer a política, a meu ver, relacionam-se com o modo como vivemos e o mundo em que vivemos. Devemos ter em conta, por exemplo, que Adolf Hitler era um artista falhado e que Charlie Chaplin, quando tentou derrotar Hitler em The Great Dictator (O Grande Ditador, 1940), foi um político falhado. Tendo a preferir artistas a políticos, mas a forma como vivemos consiste em escolhas políticas e artísticas e não deveríamos ser muito ingénuos ao pensar que ambas podem ser facilmente separadas."
"Há algumas semanas fizemos uma entrevista nos escritórios ZON com a equipa responsável pelo cinema nacional. O motivo foi o "Balas 3", mas falou-se de tudo um pouco. Fiquem a saber um pouco mais sobre o futuro do nosso cinema pela voz de quem tem maior peso na distribuição."
"Tive a sorte de poder experienciar a vida em vários países e Portugal continua a ser a minha casa, a minha pátria. Apesar das injustiças que temos sofrido e das dificuldades que temos vivido, não me passa pela cabeça não fazer carreira no nosso país, um país repleto de talento, de paixão e de motivação. Tenho a ambição, possivelmente utópica, de mudar o estado do cinema em Portugal e recuperar a ideia do “ser português” através da arte que me transformou no que sou hoje. O cinema mudou a minha vida, a minha forma de agir e pensar. É apenas justo que lute para fazer o mesmo no meu país."
" história do cinema daquela época consagrou o “Torre Bela” como um documentário exemplar, um documentário em contraponto a outros documentários mais expositivos, com uma narração off, às vezes a obedecer a uma lógica mais visivelmente militante. Estou a lembrar-me do José Manuel Costa, quando fala dos documentários que foram feitos nessa altura, que “eram documentários que queriam dizer tudo”. Não é só numa voz. É uma argumentação. Por exemplo, há o catálogo da cinemateca de 1984, nesses textos, nas mesas redondas que ali estão transcritas, o “Torre Bela” é sempre mostrado como qualquer coisa que está em contraponto a essa grande produção documental dessa época, que é dificilmente símbolo do querer tudo, uma lógica argumentativa política, muitas vezes até a influenciar a própria ordem da lógica da montagem das imagens."
"Nunca tinha pensado em fazer filmes. Quando era muito jovem, na adolescência, escrevia histórias e poemas e depois contos, pequenas histórias. Mais tarde, lá para os vinte anos, comecei a sentir-me interessado nos filmes, mas fazia-os de uma forma muito amadora, muito simples. Profissionalmente, só aos 28 anos, depois de ter trabalhado em Londres e de me ter formado em sociologia. Penso que a minha formação de Sociologia foi muito importante. São temas que me interessam, e tem uma maneira de tratar os temas com uma linguagem diferente, mais cinematográfica."
"Quando fazemos um filme tão extremo e radical como “Martyrs” claro que a reacção do público é fabulosa, mas como realizador temos de ter cuidado com uma enorme ratoeira que teremos de evitar durante o resto da carreira. Muita gente da plateia iria adorar que repetisse o mesmo filme uma vez e outra, e outra, mas uma vez visitei Rudgero Deodato em Roma e ele falou-me do “Holocausto Canibal” e disse no seu incrível sotaque italiano “Pascal, tens de ser muito cuidadoso, porque vais fazer exactamente o que eu fiz com “Holocausto Canibal”. Fiz quinze filmes depois desse e toda a gente me fala sempre da merda do Holocausto Canibal.” É uma armadilha, é um risco, e eu estava ciente do facto. Foi por isso que optei por propor algo drasticamente diferente."
"Ter a oportunidade de encarnar Florbela Espanca foi um trabalho especial para a actriz, mas que num futuro trabalho «gostava de fazer uma mulher muito cheia de si, cheia de auto-confiança», por gostar que lhe façam questionar tudo já que a sua «inquietação precisa dessa zona de conflito». «Tenho tudo por fazer. Não são as coisas que nos dão mais visibilidade que são mais gratificantes. Muitas vezes são as que ninguém vê», diz."
"Sobre o estado actual do cinema português, admite que «o Estado tem a responsabilidade política de proteger o cinema e os cineastas e isso não passa apenas pelo financiamento, passa também pela imagem que se projecta e que difunde. Se um governo português é o primeiro a desresponsabilizar-se de todo e qualquer apoio ao cinema e às artes, como podemos depois pedir às pessoas que o apoiem? Não podemos. Há uma questão de honra, de respeito e dignidade. Podemos não gostar de todos os filmes, podemos não compreender, aceitar, mas devemos ter respeito e orgulho nos nossos cineastas e isso começa pelo reconhecimento do Estado»."
1 comentário:
"Florbela": 2*
"Florbela" tinha tudo para ser um filme esplêndido, mas foi apenas razoável.
Cumprimentos, Frederico Daniel.
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