Numa aldeia qualquer esquecida na chuvosa Irlanda, Gerry Boyle (Brendan Gleeson) é um polícia atípico de métodos duvidosos - roubar droga a mortos e experimentá-la ou apalpar a tomatada aos defuntos são apenas dois exemplos dados logo no início da fita - e de personalidade atribulada ("Sou irlandês, o racismo faz parte da minha cultura"). Do nada, a sua terriola é palco de um par de crimes relacionados com um grupo internacional de tráfego de droga e Boyle vê-se envolvido numa investigação que mete, inclusivamente, o FBI ao barulho, através do agente Wendell Everett (Don Cheadle). Entre o gringo e o saloio vai nascer uma parceria nada tradicional, onde as diferenças entre os dois abrirão caminho a uma jornada policial, no mínimo, diferente.
Thriller incomum em molde de comédia buddy-cop negra, "The Guard" marca a estreia na realização de John Michael McDonagh (guionista de "Ned Kelly" e irmão do realizador do delicioso "In Bruges"), que aqui orquestra uma obra tão divertida quanto tecnicamente inconsistente, culpa talvez da sua inexperiência a este nível. Muitas vezes com pontes entre cenas mal arquitectadas e com um ritmo aborrecidamente irregular - cinco minutos de humor negro inteligente são muitas vezes interrompidos por cinco minutos de banalidade narrativa policial em prol de uma história central que não devia passar de uma desculpa esfarrapada - mesmo que necessária - para encaixar os vários gags deliciosos de Gleeson, que entre piadas politicamente incorrectas - nem Obama escapa - e diálogos irrepreensíveis com Cheadle conquistam o espectador e espelham de forma hilariante o choque entre duas culturas completamente antagónicas. Assim, entre o anti-carisma perfeito de Gleeson e a inconsistência estrutural de "O Guarda", ficamos na dúvida, tal como a personagem de Cheadle sobre a de Gleeson perto do fim, se o filme é "really motherfucking dumb, or really motherfucking smart!". Ainda assim, boa - mesmo que tardia - surpresa da distribuição cinematográfica nacional.
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