domingo, setembro 22, 2013

Blue Jasmine (2013)

Jasmine Francis (Cate Blanchett) sempre teve ao seu dispor os maiores luxos que a vida pode oferecer. Casada com um milionário nova-iorquino (Alec Baldwin), Jasmine sempre virou a cara aos meios menos lícitos com que o seu marido multiplicava o seu dinheiro, dando o corpo às balas - ou, neste caso, a sua assinatura a vários contratos - que davam a volta ao fisco, através da criação de companhias fantasmas ou transferências bancárias para offshores manhosas. Mas, de um momento para o outro, a sua vida de princesa transforma-se num pesadelo: descobre que era a única que desconhecia as mil e uma facadinhas matrimoniais do seu marido e, como se não bastasse, o mesmo é apanhado pela polícia por fraude fiscal, suicidando-se posteriormente na prisão. Com tudo penhorado e na miséria, Jasmine terá que mudar-se para casa da irmã adoptiva Ginger, em São Francisco, habituando-se a um nível de vida completamente diferente do que estava habituada. Como se não bastasse uma bruta depressão, a ex-socialite terá ainda que arranjar um emprego banal para sobreviver e aturar os namorados sem classe da irmã. Aceitará ela a dura realidade ou continuará a viver na ilusão do poder e influência que já não tem?

Escrito, idealizado e realizado por Woody Allen, "Blue Jasmine" narra ao bom estilo cru e depressivo do realizador norte-americano um drama cujo tom grotesco, surreal e psicótico que envolve a personagem principal fornece à narrativa uma certa ligeireza deprimente, numa crítica corrosiva às pseudo-elites num período de crise económica severa. Por vezes aflitivo, outras vezes divertidamente descontraído nos seus inteligentes monólogos/diálogos, "Blue Jasmine" está longe de ser o melhor Allen da última década, como muitos têm apelidado - esse título pertence ainda, para mim, a "Whatever Works" -, mas não deixa ainda assim de ser um exemplar de relevo na longa carreira do psicanalista cinematográfico. O grande destaque vai para a interpretação fenomenal de Cate Blanchett - que espero não caia no esquecimento na próxima temporada de galardões - e para o muito competente e credível apoio que recebe dos seus coadjuvantes Sally Hawkins e Alec Baldwin. Pena que num filme onde as personagens foram exprimidas ao máximo nas suas motivações, a belíssima São Francisco tenha apenas servido de pano de fundo para uma mão cheia de cenas, desaproveitando encantos e marcos vários de uma cidade com tanto para mostrar.

2 comentários:

Jorge Teixeira disse...

Dou-lhe seguramente mais valor (mas talvez não tanto como a esmagadora maioria), mas é um facto - Woody Allen parece que está mais no seu habitat (e na sua forma) com a sua América, do que em terras Europeias. Bom texto.

Cumprimentos,
Jorge Teixeira
Caminho Largo

Carlos M. Reis disse...

Obrigado Jorge, abraço!

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