domingo, maio 03, 2020

Ace in the Hole (1951)

A cada nova descoberta na filmografia de Billy Wilder, deparo-me com a facilidade inquietante como aquele que muitas vezes é apenas visto como um dos "mestres" da comédia consegue, dentro do mesmo filme, oscilar entre o humor e o pudor, entre o drama sórdido e a crítica sócio-ideológica, entre a obscenidade e o moralismo. "O Grande Carnaval", parábola mordaz sobre o jornalismo e o desejo de sangue ou glória das audiências ("Bad news sells best, cause good news is no news"), é outro exemplo disso mesmo, um retrato cínico cada vez mais actual que não poupa ninguém: esposa, xerife, negociantes locais, meros voyeurs, comunicação social ou até mesmo voluntários no resgate; ninguém é inocente neste socorro ao herói inesperado. Um olhar perverso que foi também o primeiro grande flop comercial de Wilder, mas que é de uma astúcia e coragem incrível, não só pelo seu final perverso e inesperado, mas também porque vivia-se uma época e uma era em que os jornalistas eram vistos como figuras de destaque que combatiam a corrupção e procuravam a verdade.

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