domingo, maio 16, 2021

Scarface (1983)

Obra-prima do caralho. Perdoem o meu francês, mas tenho que fazer justiça ao espírito e energia do filme de Brian de Palma, escrito por Oliver Stone - que combinação explosiva de talento e audácia. Enquadramento político e social renovado - imigrantes italianos, álcool e Chicago dão lugar a refugiados cubanos, cocaína e Miami - neste remake de homenagem ao clássico de Howard Hawks da década de trinta. Papelão maior que a vida de Al Pacino - o sotaque, os tiques, a arrogância -, uma mão-cheia de cenas que roçam a perfeição cinematográfica - a da motoserra na casa de banho, com a câmera a entrar e a sair do quarto, provavelmente a mais brilhante e ousada -, sets magníficos - a mansão, a discoteca, etc. -, um tipo enforcado num helicóptero, os cabrões dos sunsets com um laranja azulado no céu, "Miami como uma grande rata à espera de ser comida" (Tony Montana dixit) e o "olhar de quem não fode há um ano... e os olhos nunca mentem" da Michelle Pfeiffer naquele vestido verde - com a mulher certa, qualquer homem pode chegar ao topo. O percurso do canastrão de rua que mataria comunistas por prazer - mas que por dinheiro esquartejaria-os como se fosse Picasso - a big boss do narcotráfico que define capitalismo como o acto de ser "enrabado" pelos poderes instituídos, da banca ao governo. O mundo não chega para quem quer sempre mais.

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