sábado, maio 15, 2021

Scarface (1932)

Filme clássico e icónico de gangsters, o "Scarface" original explora todos os elementos temáticos do género - a ascensão e a queda de um criminoso, os carros, as armas, a forma de vestir, os bastidores do crime organizado - de forma tão negra e, porque não, sarcástica, quanto o então recentemente criado código Hays (ainda) permitia. Como que uma figura paradoxalmente deliciosa que representava a escumalha da sociedade ao mesmo tempo que alcançava os ideais do sonho americano - dinheiro, poder, individualismo, sucesso -, o Tony Camonte de Paul Muni - inspirado às escondidas em Al Capone, que tentou evitar que o filme fosse feito mas posteriormente tornou-se um dos seus maiores fãs - foi a face controversa de exposição de Howard Hawks a um problema real que a sociedade, a polícia e os políticos não estavam a conseguir resolver. Prova disso é o cartão de abertura - talvez até imposto pelo código Hays - que antecede o delicioso plano-sequência de quatro minutos que arranca o filme, que escarrapacha a seguinte mensagem ao espectador: "Este filme é uma acusação aos gangs na América e é uma chamada de atenção à indiferença do governo a esta ameaça crescente à nossa segurança e à nossa liberdade. Todos os incidentes representados neste filme são uma reprodução de ocorrências verídicas e o objectivo deste filme é exigir ao governo uma resposta à seguinte pergunta: "O que vão fazer em relação a isto?". O governo é o teu governo. O que é que TU vais fazer em relação a isto?". Numa época de gangsters no cinema - foram mais de sessenta os filmes lançados entre 1930 e 1932 -, "Scarface" sobressaiu dos demais. Mérito de Hawks, Muni e, porque não, daquele hilariante secretário meio surdo que não sabe ler nem escrever. Mas era um tipo leal, que não largava o telefone nem no meio de um tiroteio; e isso é que conta, meus amigos.

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