terça-feira, janeiro 25, 2005

The Game (1997)

Depois de "Seven", David Fincher criou à volta do seu nome uma considerável expectativa. Diga-se, desde já que, "The Game" ("O Jogo") não desmerece pelo trabalho de argumento e pela mesma lógica de um cinema que usa a narrativa, não como uma forma de descrever mas como uma forma de escrever. Assim como em "Seven", a lógica da investigação policial que se confundia com a descodificação literária do percurso do criminoso enquanto um discurso consistente, também em "The Game" se constitui à partida, um relato que apela à construção de um sentido. Não precisaria, provavelmente, que o título o sublinhasse como faz (pelo menos na tradução do lançamento em Portugal, já que o original pode jogar com um outro sentido como "A Presa" ee essa dupla referência não é estranha à própria construção do filme), mas talvez isso possa evitar que um espectador apressado tome o filme não pelo seu evidente lado parabólico mas nos termos restritos da verosimilhança para que o cinema, quase pela sua construção a partir de uma câmara que regista o que está por diante, parece vocacionado.

"The Game" trata-se precisamente de um jogo, em que o argumento sempre se deixa flutuar entre diferentes registos da realidade, que colocam o espectador num ponto bem semelhante ao do protagonista, para o qual, depois de várias hipóteses, só o desfecho final vem dar resposta cabal. Nas primeiras sequências, vemos o dia-a-dia de Nicholas Van Orton (Michael Douglas), um especulador financeiro, bem sucedido nos negócios mas com um quotidiano entediante. A convite do irmão, no seu aniversário, decide-se inscrever num clube que propõe um jogo, aparentemente inocente, destinado a animar vidas supostamente monótonas. A crise de Nicholas torna-se mais clara e a aceitação da proposta, como que o introduz num mundo inesperado. Como dissera o irmão a vida dele não vai ser mais a mesma. Mas o que se passa realmente? Estará a ser vítima de uma monumental burla? A sua vida, até aí aparentemente sólida, parece completamente ameaçada. Toda esta situação é colocada de início entre a ilusão (o "faz de conta", eventualmente o embuste, ou pelo menos um comércio de legitimidade duvidosa, que oferece um bem-estar artificial) e a terapia (a iniciação passa por um longo processo de envolvimento, onde o mistério e o insólito parece implicar uma sedução irresistível, mas onde é evidente um certo ambiente clínico e de avaliação psicológica).

"The Game" é um filme sobre experiências subjectivas, e sobre a acção humana, numa espécie de realidade virtual. O facto é, que durante todo o filme, é demasiado difícil distinguir o que é realidade, da simulação habilidosa e o personagem é solicitado a agir, passando pelas suas respostas e pelas suas emoções. Sem a violência de "Seven", mas com o mesmo gosto pela encenação como meio de procurar, ou construir, um sentido, "The Game" confirma a atenção que David Fincher merece, neste já vasto e divulgado mundo do cinema.

Nota de Redacção: Parte alargada desta análise foi retirada de um documento que andou a circular pelas newsgroups nacionais à alguns anos. O documento não estava identificado mas fica aqui o devido mérito.


4 comentários:

Anónimo disse...

best regards, nice info »

Rui Francisco Pereira disse...

adorei memo este filme

qual achas melhor?
este ou o seven?
abraço

Rui Francisco Pereira disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Carlos M. Reis disse...

São ambos enormes filmes, mas confesso que tenho uma adoração especial por este ;)

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