Com escassos trinta e sete anos de idade e apenas duas longas-metragens no currículo, Neil Marshall é a prosopopeia cinematográfica do mais comum admirador cinéfilo do submundo do terror, demonstrando já habilidades que ainda não o colocam como o monarca excelso do género, mas sem demora como filho primogénito e herdeiro presuntivo da coroa. E assim o é porque, além do talento inato que evidenciou em “Lobos Assassinos” (2002) e “A Descida” (2005) - que o coloca, sem receios nem grandes mistérios, neste espaço - denota uma ingénua modéstia e simplicidade interpessoal, tão notável como incomum para um realizador que já possui o seu estatuto na indústria. O seu site oficial manhoso e extraordinariamente pessoal, feito por si próprio como qualquer jovem cinéfilo sem meios ou recursos o faria no My Space, e onde interage regularmente com os visitantes em salas de conversação ou nos espaços destinados a comentários, é a prova definitiva que estamos perante uma individualidade com um carácter raro e firme.
Espectacularmente claustrofóbico, Marshall tem mostrado que consegue abordar, obra após obra, a escuridão e alguns outros pavores psicopatológicos triviais de uma forma híbrida – terror, suspense, drama e até comédia - e inovadora. Influências óbvias da elegante e, quem diria, comercial diversidade cultural que o apaixonou pela Sétima Arte, que o leva a afirmar sem qualquer problema que Indiana Jones é o seu herói, “24” e “Battlestar Galactica” as suas séries preferidas, “Veio do Outro Mundo”, “Die Hard: Assalto ao Arranha-Céus” ou “Regresso ao Futuro” alguns dos seus filmes favoritos e que o seu próximo trabalho, “Doomsday”, com estreia mundial marcada para este mês de Março, é uma homenagem pura e dura ao seu realizador de eleição, John Carpenter, e ao seu “Nova Iorque 1997”. Até aqui, nas suas banais escolhas que se confundem com as de milhões, Marshall testemunha um escape à pseudo-intelectualidade que cada vez mais parece ser condição determinante para a afirmação e o sucesso de qualquer aspirante recente a comandante de fotogramas.
N.d.r: Artigo publicado em Fevereiro na Revista Take.
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