Como que um curso rápido - mas extremamente eficaz - de tantos artigos da Constituição norte-americana que devem garantir a qualquer réu um julgamento justo, com presunção de inocência, sem qualquer margem para dúvidas que possam erroneamente condenar um inocente, "
Doze Homens em Fúria" é, ainda hoje, uma obra cinemática ímpar. Tecnicamente - uma pequena sala de um tribunal com uma mesa, doze cadeiras, um par de janelas e uma ventoinha estragada no dia mais quente do ano serve para Sidney Lumet fazer tanto, mudando ângulos e lentes conforme o sentimento que queria passar - e, de modo fascinante, a nível narrativo; porque não vemos o julgamento, a acusação ou a defesa, o assassinato ou sequer qualquer uma das testemunhas-chave constantemente referidas. Mesmo o alegado homicida, um adolescente de uma família imigrante, apenas tem direito a dez segundos de ecrã logo no arranque do filme. Arranque esse em que o juiz manda, de forma enfadonha, como se o caso já estivesse resolvido, o júri reunir-se para deliberar o destino do réu. Não há bengalas em flashbacks, em imagética fornecida fora daquela claustrofóbica sala, nada. Apenas doze homens muito diferentes, uns conservadores outros progressistas, uns mais xenófobos que outros, uns mais sisudos, outros mais descontraídos, a discutir durante uma tarde vários pormenores do caso, tentando convencer uns e outros que não existem dúvidas absolutamente nenhumas em relação à autoria do crime. No fim, quando o voto é finalmente unânime, tudo acaba. Não sabemos se decidiram bem ou mal. Se o miúdo era mesmo culpado ou não. E é nessa dúvida eterna que reside a força de um realizador magnânimo e de um filme intemporal, que não precisa de dar biscoitos ao público para o deixar satisfeito. Porque toda a tensão veio do conflito entre pessoas e ideias e, esse, teve um final feliz.
3 comentários:
Uma aula de cinema.
Sem dúvida.
Se não me falha a memória o nome em português é 12 homens e uma sentença. E a refilmagem com o Jack Lemm
on é tão brilhante quanto.
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