Kirk Douglas disse uma vez numa entrevista que não precisava de esperar cinquenta anos para saber que "
Horizontes de Glória" seria sempre um grande filme. Pois bem, morreu este ano, com 103 anos de muita vida, a saber que tinha tido razão. Banido durante duas décadas em França pela forma como retratava a hierarquia militar gaulesa durante a Primeira Guerra Mundial, "
Paths of Glory" segue inicialmente uma batalha numa "terra de ninguém", onde tropas francesas e alemãs lutam pela conquista de metros de terreno, num jogo militar estratégico que, de forma absurda e sem qualquer objectivo plausível, provocava incontáveis baixas - principalmente aos franceses. Segue-se um julgamento por cobardia na face do inimigo, uma luta de galos - os hierárquicos superiores - que procuram encontrar bodes expiatórios para os seus fracassos ao mesmo tempo que passeiam por pomposos chateaux ou participam em festas espalhafatosas da alta sociedade. Sobrou a câmara implacável e fervilhante de Kubrick entre trincheiras e tribunais e uma performance sentida de Douglas contra a injustiça e, porque não, estupidez humana. Nos estonteantes quinze minutos finais, a esperança do espectador transforma-se em dor, numa cena de execução que afinal não teve nenhuma reviravolta que a impedisse; de seguida, a dor desvanece-se no comportamento animal e irracional do Homem perante uma rapariga alemã capturada para mero entretenimento das tropas; e eis que, quando já ninguém esperava, finalmente surge a cambalhota emocionante, uma voz apaixonante que os faz render, chorar, sentir o peso da condição humana. Por um momento apenas, claro, que a Guerra continuava logo de seguida.
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