Nesta reinvenção do mítico “Halloween” de John Carpenter, obra imortalizada no final dos anos setenta e que subiu a parada dentro do género “slasher” para um nível que, ainda hoje nos dias que correm, não voltou a ser tocado, Rob Zombie constrói um filme antagónico na sua essência – quase bipolar –, que parte a narrativa em duas fases distintas e opostas: uma, mais biográfica, que acrescenta algo de novo à obra original e onde a juventude de Michael Myers é retratada, com grande segurança, de forma pungente; e outra, onde a besta cruel já adulta perde toda a profundidade emocional da sua personagem e cai nos lugares comuns vistos e revistos nas sete sequelas da saga e em tantas outras películas que, de uma forma ou de outra, surgiram por influência e homenagem a Carpenter.
Como analisar então um filme que constrói uma base sólida, sem precedentes, só para depois cair em completa desgraça, risível para meia sala, descredibilizando por completo a experiência cinematográfica? Ao tentar fazer um pouco de tudo, Zombie – responsável pelos aceitáveis, para alguns de culto, “Casa dos 1000 Cadáveres” e a respectiva sequela “Os Renegados do Diabo”, perde o rasto ao ambiente estrutural e visceral que havia criado perante uma família atípica, onde Myers alimentava as suas motivações vagabundas e criminosas. O próprio Malcolm McDowell, que no papel de psicólogo servia de intermediário entre o monstro e o ser humano, torna-se de um momento para outro fútil durante a trama, devido à mudança de personalidade do filme, que decide abandonar o cérebro e dedicar-se a tempo inteiro ao sangue e aos sobressaltos característicos da casta artística.
Resta-nos então desfrutar de forma moderada dos primeiros trinta minutos do filme, onde o monstro é construído, apreciar a articulação arriscada e incomum entre algumas músicas descontextualizadas – dignas de um qualquer romance - e duas ou três cenas mórbidas, estimar a presença de Danny Trejo, um autêntico tractor do cinema – já lá vão cento e quarenta filmes desde 1990 -, relembrar o tema original da composição de culto e esquecer por completo a transição para a acção unidimensional, onde raparigas com as mamocas à mostra, truques baratos de terror e um móvel com pernas são significados totais da tensão e da inquietação que Rob Zombie consegue passar para o espectador. O final, frio e indiferente, desprovido de singularidade, é a prova derradeira do caminho deprimente e desnecessário tomado. Se quer ir dormir sobressaltado, o melhor é mesmo pegar no original.
8 comentários:
Acabaste de salvar 2 horas da minha vida hehe
O danny trejo é mesmo um fenomeno, mas acho que vou seguir o teu conselho e ver a pelicula original!
Grande abraço
Esses filmes para mim não me animam em nada. É uma eterna repetição das cenas e de tudo que acontece nos anteriores. Mudam os atores, os cenários, mas esquecem dos roteiros.
Q desastre de filme, como é que isto chegou a ser feito!!
Abraço
Não vale reaproveitar os textos feitos para a Take :P Já sabes a minha opinião sobre este filme. Não há metade que se salve. Não há nada que o salve. Chamar-lhe um remake de Halloween é um completo sacrilégio. Se Halloween, Michael Myers (nomes) e a mascara não estivesse no filme, ainda vá que não vá... mas não é, nem nunca poderá ser um bom filme e nunca manchar um legado que é o grande filme de Carpenter. Diabos, até o Halloween Ressurection é melhor!
Danny Trejo rocks! =D
bem, respeito a teu comentário, até porque está bem fundamentado... Mas do que é que as pessoas estavam à espera de um "slasher"? É óbvio que teriam que haver as meninas com as mamocas à mostra... Mas concordo contigo, quando comentaste a primeira parte do filme. Sempre é algo novo na saga! O resto é mais do mesmo... Mas ainda assim está bem filmado. O que para um filme de terror é importante (não quer dizer que para os outros géneros nao seja).
www.revoltadapipoca.blogspot.com
Confesso que já não tencionava ver...
Dutch, se ainda não vi o original, segue definitivamente o meu conselho ;) Um grande abraço!
Isabela, têm retorno de investimento, com lucros gigantescos em cima. E acaba por ser isso que interessa, acima de tudo. Beijinhos.
Mauro ;) Um abraço!
Ricardo, claro que vale ;) Um abraço!
CinemaBox, yes indeed ;) Um abraço!
Blog da Pipoca, mas os grandes filmes são aqueles que reinventam os seus géneros. É preciso é muita cabecinha e imaginação. E este, apesar de mudar algumas arestas, acabou por cair nos lugares comuns. Cumprimentos ;)
José, imagino ;) Um abraço!
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