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Surpreendente. Assim foi a cerimónia que esta madrugada atribuíu os mais conceituados galardões da indústria cinematográfica de Hollywood. Começando pela apresentação versátil e divertida de Hugh Jackman - de quem confesso ter torcido o nariz, após a escolha não ter recaido sobre um comediante - à forma original e simbólica de entrega dos óscares das categorias de representação - com os que já viveram o momento a darem as boas-vindas aos que agora chegam ao panteão -, tudo foi quase perfeito numa noite de glamour e... poucas surpresas.
São vários os ângulos sobre os quais posso aqui deixar alguns comentários, elogios, notas soltas ou provocações. Muitos foram os pormenores entretanto olvidados durante uma (má) noite de sono, mas eis o que, de repente, me vem à memória:
Natalie Portman e Freida Pinto foram as duas presenças mais belas e sensuais da noite. Curiosamente, nenhuma delas - e ao contrário de dezenas que passaram pela passadeira vermelha - precisou de recorrer ao Dr.90210. Ainda neste capítulo, o que dizer do pacote desavergonhado de Sarah Jessica Parker - que confirmou à E! o esperado segundo capítulo de "Sexo e a Cidade" - ou da vida própria da mama esquerda da Goldie Hawn, que tremia sozinha de um lado para o outro enquanto a esquecida actriz apresentava uma das nomeadas a Melhor Actriz Secundária. A acompanhante de Meryl Streep - seria filha? - destacava-se mais nas objectivas e nas lentes do que a própria veterana actriz e isso ficou provado ao longo da transmissão. A nova esposa de Downey Jr. explica muita coisa, entre elas o facto de o polémico actor parecer entrar agora em linha, once and for all. Anne Hathaway vestiu-se com escamas, mas nem o vestido conseguiu disfarçar uma cintura de texugo, com alguns quilinhos a mais do que é normal. O ano mudou mas Tilda Swinton
não - para mal dos nossos pecados. Jessica Biel é overrated. Por fim, já não reconhecia a Marisa Tomei vestida. Depois de "The Wrestler" e "Before the Devil Knows You're Dead", ainda tive esperanças que aparecesse na passadeira vermelha como tão bem nos habituou nos últimos tempos.
Depois do lado AXN da festa - quem não se lembra daqueles fantásticos comentários ao vivo durante a transmissão dos Globos de Ouro -, passemos agora à facção TVI de ontem à noite. Contidos e só muito raramente a interromper alguma fala ou discurso que vinha directamente do Kodak Theater, a grande questão que se coloca é esta: numa transmissão onde ninguém quer ouvir nada mais que não o que som que vêm de Hollywood, qual a pertinência de dois comentadores em estúdio? Ainda para mais, quando um deles passa metade do tempo a falar do Cinanima em Espinho ou do Festróia? Há tempos e lugares para tudo. A madrugada de hoje não era uma delas. O melhor da transmissão da estação de Queluz foi o anúncio em que Mr.T entra de tanque e atira um Snickers contra um miúdo. Errou o alvo - na testa do José Vieira Mendes tinha tido mais piada - mas a intenção foi boa. De resto, será que alguém enviou PORNO para o 4 99 99? Entre "as marotas que fazem tudo" e o Hugh Jackman, não sei quem teve mais tempo no ecrã. Enfim, sejamos justos também: já foi tudo bem pior. Esqueçamos a piada sobre Jackman e o seu filho Óscar ou o facto de nenhum dos dois comentadores ter percebido que Stiller estava a gozar com o agora rapper Joaquin Phoenix e terem adorado à mesma o momento - sabe-se lá porquê.
Passando ao que interessa - antes que me esqueça e caiam alguns paraquedistas a acusar-me de pretender substituir o Cláudio Ramos em algum programa da SIC -, poucas surpresas numa noite que não contou com os melhores. Para começar, na categoria de Melhor Realizador, tanto Eastwood (jogos de sombras belíssimos em "Gran Torino", como Nolan (há alguma falha técnica ou artística que possa ser apontada a "The Dark Knight"?) ou Aronofski (fazer algo estrondoso como "The Wrestler" sem um tostão) mereciam mais uma estatueta que Danny Boyle. Como nem sequer estavam nomeados, podemos dizer que foi bem entregue. Melhor filme não surpreende - nem choca - ninguém, ao contrário da vitória inesperada de Sean Penn, quando todos esperavam por mais uma vitória de Mickey Rourke. Fiquei triste, apenas por saber que Penn certamente voltará àquele palco, ao contrário de Rourke. O de Winslet e de Ledge foram bem entregues, já o de Penélope Cruz - e eu até gosto bastante dela - parece-me produto de uma forte campanha de marketing. A espanhola coloca Scarlett Johansson no bolso mas isso não é suficiente. As categorias musicais, essas, nem merecem qualquer nota solta a partir do momento em que "Gran Torino" e "The Wrestler" não entraram nos nomeados.
Em suma, uma cerimónia que, tal como prometido, maravilhou cinéfilos nos quatro cantos do mundo. A peça de entrada de Jackman foi nada menos do que brilhante e destaque menos positivo apenas para o número musical completamente fora do contexto com Beyoncé - que, já agora, tem umas ancas maiores que as minhas mesinhas de cabeceira. O prémio de discurso da noite vai para o guionista de "Milk", que "sai do armário" perante milhões de telespectadores e serve de exemplo num mundo cínico. E mesmo tendo em conta que o filme de Gus Van Sant não teve o mesmo sucesso ou impacto de "Philadelphia", esta foi a cerimónia mais homossexual da história da Academia. Depois de Obama, o Tio Sam continua a derrubar barreiras.