segunda-feira, janeiro 31, 2005

Zatoichi (2003)

Cada novo filme de Takeshi Kitano parece mais anti-convencional do que o precedente e "Zatoichi" não foge à regra, antes pelo contrário, pois misturar "tap dancing" à Gregory Hines no Japão do séc.XIX, ou ver um grupo de camponeses em exercício de percussão ao jeito de "Singing in the Rain", não lembraria a nenhum dos cineastas japoneses mais ortodoxos, a começar por Kurosawa. Mas aquilo que daria borrasca com outro realizador (actor), com Kitano é imediatamente perdoável (funciona mesmo como uma espécie de Eastwood em versão oriental), e é isso que acontece em "Zatoichi", mesmo que neste caso, tenha introduzido variantes consideráveis (diz quem sabe) na personagem mítica do "massagista-justiceiro solitário", pintando-lhe o cabelo de loiro, etc. É que no cinema de Kitano há uma pujança e uma sinceridade tão genuínas que rapidamente acabamos por aceitar o desafio e embarcamos nos seus filmes, mesmo que às vezes nada nos queira transmitir, e sejam colagens inconsequentes de"sketches" ou exercícios de pretensiosismo formal. Que interessa isso, se o cinema de Kitano é arrebatador?

"Zatoichi" tem tanto de sangue a jorrar ao melhor jeito dos "westerns"de Corbucci & Cia., como de humor socialmente corrosivo (as gueixas que não o são, o espantalho como ídolo fálico, etc.). Mesmo que o ambiente lembre as tragédias épicas de Kurosawa, as personagens que habitam "Zatoichi" são os aldeões explorados até ao tutano, das pradarias americanas. E o justiceiro solitário continua a ser o seu vingador, de preferência em duelo com o "ronin" de serviço. É a originalidade de Kitano que nunca deixa ninguém indiferente.

sábado, janeiro 29, 2005

Jackass Vol.3 (S3/2002)

Neste terceiro e último volume da saga Jackass, ou por outras palavras, a reunião dos melhores momentos da terceira temporada dos mesmos na MTV, antes de serem despedidos, é claramente notória a falta de originalidade em relação a "aventuras" anteriores passadas em temporadas transactas. Um pouco atrás do primeiro filme, e milhas atrás do segundo volume (que é sem dúvida alguma o melhor dos três), Knoxville e os seus companheiros não deixam no entanto de tentar chocar todos os valores básicos humanos e sociais. Mas nesta compilação, já não há ideias novas, e a maior parte das "maluqueiras" são adaptadas das temporadas anteriores. Não há muito mais a dizer sobre um video de Jackass, quem está dentro do assunto, sabe que só vendo mesmo se acredita. Mas se não viram nenhum, então arranjem o segundo volume.

quarta-feira, janeiro 26, 2005

Kill Bill Vol.1 (2003)

Mais história? Para quê? "Kill Bill: Vol.1" é puro deleite cinematográfico, e muito mais. Muito agradecido. Manta de citações? Sim, claro! E não vão sendo cada vez mais escassos os filmes que não o são? Mesmo entre "auteurs"? O Cinema (assim mesmo, com maiúscula e tudo) de Tarantino está nos grandes-planos da espantosa Uma, sangrando a preto e branco. Está na fabulosa sequência-homenagem em Anime, no duelo nevado (à Leone) com "Boca de Algodão", na coreografia sanguinolenta no interior do sushi-bar (Peckimpah, sempre!), nos Ray-Ban dos polícias "Father" e "Son Nbr.1", no duelo escavaca mobiliário, com "Cabeça de Cobre". Uma sequência? A do hospital, todinha. E em Uma, sem adjectivos. "Kill Bill: Vol.1" é um fabuloso "western" feito de artes-marciais, sob o olhar contemplativo do Japão. Como "Os 7 Magníficos" o tinham sido em relação a Kurosawa. Irreprensivelmente realizado, da imagem ao som. E com muito humor, capaz de fazer sorrir o mais sorumbático dos japoneses. Arigatou gozaimasu, Tarantino-san.

Fonte: Um documento não identificado que circulou pelos newsgroups.

terça-feira, janeiro 25, 2005

The Game (1997)

Depois de "Seven", David Fincher criou à volta do seu nome uma considerável expectativa. Diga-se, desde já que, "The Game" ("O Jogo") não desmerece pelo trabalho de argumento e pela mesma lógica de um cinema que usa a narrativa, não como uma forma de descrever mas como uma forma de escrever. Assim como em "Seven", a lógica da investigação policial que se confundia com a descodificação literária do percurso do criminoso enquanto um discurso consistente, também em "The Game" se constitui à partida, um relato que apela à construção de um sentido. Não precisaria, provavelmente, que o título o sublinhasse como faz (pelo menos na tradução do lançamento em Portugal, já que o original pode jogar com um outro sentido como "A Presa" ee essa dupla referência não é estranha à própria construção do filme), mas talvez isso possa evitar que um espectador apressado tome o filme não pelo seu evidente lado parabólico mas nos termos restritos da verosimilhança para que o cinema, quase pela sua construção a partir de uma câmara que regista o que está por diante, parece vocacionado.

"The Game" trata-se precisamente de um jogo, em que o argumento sempre se deixa flutuar entre diferentes registos da realidade, que colocam o espectador num ponto bem semelhante ao do protagonista, para o qual, depois de várias hipóteses, só o desfecho final vem dar resposta cabal. Nas primeiras sequências, vemos o dia-a-dia de Nicholas Van Orton (Michael Douglas), um especulador financeiro, bem sucedido nos negócios mas com um quotidiano entediante. A convite do irmão, no seu aniversário, decide-se inscrever num clube que propõe um jogo, aparentemente inocente, destinado a animar vidas supostamente monótonas. A crise de Nicholas torna-se mais clara e a aceitação da proposta, como que o introduz num mundo inesperado. Como dissera o irmão a vida dele não vai ser mais a mesma. Mas o que se passa realmente? Estará a ser vítima de uma monumental burla? A sua vida, até aí aparentemente sólida, parece completamente ameaçada. Toda esta situação é colocada de início entre a ilusão (o "faz de conta", eventualmente o embuste, ou pelo menos um comércio de legitimidade duvidosa, que oferece um bem-estar artificial) e a terapia (a iniciação passa por um longo processo de envolvimento, onde o mistério e o insólito parece implicar uma sedução irresistível, mas onde é evidente um certo ambiente clínico e de avaliação psicológica).

"The Game" é um filme sobre experiências subjectivas, e sobre a acção humana, numa espécie de realidade virtual. O facto é, que durante todo o filme, é demasiado difícil distinguir o que é realidade, da simulação habilidosa e o personagem é solicitado a agir, passando pelas suas respostas e pelas suas emoções. Sem a violência de "Seven", mas com o mesmo gosto pela encenação como meio de procurar, ou construir, um sentido, "The Game" confirma a atenção que David Fincher merece, neste já vasto e divulgado mundo do cinema.

Nota de Redacção: Parte alargada desta análise foi retirada de um documento que andou a circular pelas newsgroups nacionais à alguns anos. O documento não estava identificado mas fica aqui o devido mérito.


quinta-feira, janeiro 20, 2005

The Firm (1993)

Mitchell Y. McDeere (Tom Cruise) acabou o seu curso de Direito em Harvard, como um dos cinco melhores do seu ano. Como tal, é desejado por todas as maiores empresas do país, recebendo mesmo excelentes propostas das maiores e melhores empresas de advocacia de Nova Yorque. No entanto, uma pequena mas respeitada empresa de Memphis faz uma proposta simplesmente irrecusável, com casa e Mercedes descapotável incluído, à qual o mesmo não consegue resistir e acaba por aceitar. Passadas umas semanas, Mitchell e a mulher começam a achar todo o ambiente à volta da empresa muito estranho, descobrindo que recentemente, dois advogados da empresa tinham morrido sobre circunstâncias misteriosas. Começa a investigar, e, antes mesmo de saber os segredos da mesma, é contactado pelo FBI, que o informa que a sua empresa só lida com a Mafia. "The Firm" é o tipo de filme, que depois de começarmos a ver, não o queremos deixar a meio. No entanto, no fim dos quase 160 minutos de filme, concluímos que "The Firm" é um thriller que não cobre novos territórios, que acaba por não ter grande moral, mas que foi bem realizado e que acabou por conseguir tornar-se excitante durante toda a sua longa metragem. E mais, o seu suspense derivou de interacções humanas e não de explosões, artes marciais ou perseguições extremamente perigosas nas mais estranhas auto-estradas norte-americanas que acabam sempre no México. Como tal, este acaba por ser um dos melhores filmes, na já longa carreira de Sidney Pollack.

quarta-feira, janeiro 19, 2005

Garden State (2004)

"Garden State" é um daqueles filmes que falha completamente em agarrar o espectador durante um largo período de tempo. É um filme fácil de esquecer, com uma história mais que batida sobre personagens fáceis de esquecer, e com interpretações fáceis de esquecer. Não estou a dizer que o filme é mau, seria injusto. Mas não percebo o sucesso deste filme. É uma história, mais que repetida no cinema, sobre um "loser", ainda nos seus 20 e poucos anos, que regressa às origens, faz as pazes com as suas inquietações interiores e ao mesmo tempo encontra o amor da sua vida. Digam-me que nunca vimos esta história anteriormente. O argumentista/realizador/actor Zach Braff não se sente à vontade a contar esta história. É a impressão com que fiquei. Não fosse pelos momentos de humor "originais" e "estranhos", tal como em Lost In Translation, e este filme para mim teria sido um puro desperdício de tempo. Tal como o foi, Lost in Translation. Tou farto de "Amor Filosófico". Quanto à banda sonora, essa sim, foi excelentemente escolhida. As músicas adaptam-se exemplarmente às situações e ajudam a fluir um filme, que nem sempre, o quis fazer. Para mim, uma das desilusões do ano. Tudo porque foi muito aclamado, ainda hoje o é, e eu não percebo essa "fama".

terça-feira, janeiro 18, 2005

Best Film Speeches and Monologues Ever

Foi realizada uma sondagem a mais de 6500 críticos de cinema sobre os diálogos/monólogos que mais marcaram a história do cinema. Aqui ficam os resultados, em ordem decrescente:

10. Braveheart
"And I see a whole army of my countrymen here in defiance of tyranny. You have come to fight as free men, and free men you are. What will you do without freedom? Will you fight?...Aye, fight and you may die, run and you'll live - at least a while. And dying in your beds many years from now, would you be willing to trade all the days from this day to that for one chance, just one chance to come back here and tell our enemies that they may take our lives, but they'll never take our freedom! Alba gu bra! (Scotland forever!)"

9. Withnail and I
"What a piece of work is a man, how noble in reason, how infinite in faculties, how like an angel in apprehension, how like a God! The beauty of the world, paragon of animals; and yet to me, what is this quintessence of dusk. Man delights not me, no, nor women neither, nor women neither. "

8. Dirty Harry
"I know what you're thinking. Did he fire six shots or only five? Well, to tell you the truth, in all this excitement, I've kinda lost track myself. But being as this is a .44 Magnum, the most powerful handgun in the world, and would blow your head clean off, you've got to ask yourself one question: 'Do I feel lucky?' Well, do ya punk?"

7. Trainspotting
"Choose life. Choose a job. Choose a career. Choose a family, Choose a f--king big television. Choose washing machines, cars, compact disc players, and electrical tin openers. Choose good health, low cholesterol and dental insurance. Choose fixed-interest mortgage repayments. Choose a starter home. Choose your friends. Choose a three piece suit on hire purchased in a range of f--king fabrics. Choose DIY and wondering who the f--k you are on a Sunday morning. Choose sitting on that couch watching mind-numbing, spirit-crushing game shows, stuffing f--king junk food into your mouth. Choose rotting away at the end of it all, pishing your last in a miserable home, nothing more than an embarassment to the selfish, f--ked-up brats you have spawned to replace yourself. Choose a future. Choose life...But why would I want to do a thing like that? I chose not to choose life. I chose somethin' else. And the reasons? There are no reasons. Who needs reasons when you've got heroin? "

6. Network
" I don't have to tell you things are bad. Everybody knows things are bad. It's a depression. Everybody's out of work or scared of losing their job. The dollar buys a nickel's work, banks are going bust, shopkeepers keep a gun under the counter. Punks are running wild in the street and there's nobody anywhere who seems to know what to do, and there's no end to it...All I know is that first you've got to get mad. (shouting) You've got to say, 'I'm a human being, god-dammit! My life has value!' So I want you to get up now. I want all of you to get up out of your chairs. I want you to get up right now and go to the window. Open it, and stick your head out, and yell, 'I'm as mad as hell, and I'm not going to take this anymore!' I want you to get up right now, sit up, go to your windows, open them and stick your head out and yell - 'I'm as mad as hell and I'm not going to take this anymore!' "

5. Wall Street
" The point is, ladies and gentleman, is that greed - for lack of a better word - is good. Greed is right. Greed works. Greed clarifies, cuts through and captures the essence of the evolutionary spirit. Greed, in all of its forms - greed for life, for money, for love, knowledge - has marked the upward surge of mankind. And Greed - you mark my words - will not only save Teldar Paper but that other malfunctioning corporation called the USA. "

4. Pulp Fiction
" The path of the righteous man is beset on all sides by the inequities of the selfish and the tyranny of evil men. Blessed is he, who, in the name of charity and good will, shepherds the weak through the valley of darkness, for he is truly his brother's keeper and the finder of lost children. And I will strike down upon thee with great vengeance and furious anger those who would attempt to poison and destroy my brothers. And you will know my name is the Lord when I lay my vengeance upon thee. "

3. On the Waterfront
" Remember that night in the Garden? You came down to my dressing room and you said 'kid, this ain't your night. We're going for the price on Wilson'... You was my brother, Charlie. You shoulda looked out for me a little bit so I wouldn't have to take them dives for the short-end money. I coulda had class. I coulda been a contender. I coulda been somebody, instead of a bum. Which is what I am. Let's face it."

2. A Few Good Men
" You can't handle the truth! Son, we live in a world that has walls, and those walls have to be guarded by men with guns. Who's gonna do it? You? You, lieutenant Weinberg? I have a greater responsibility than you can possibly fathom. You weep for Santiago, and you curse the Marines. You have that luxury. You have the luxury of not knowing what I know - that Santiago's death, while tragic, probably saved lives; and my existence, while grotesque and incomprehensible to you, saves lives. You don't want the truth because deep down in places you don't talk about at parties, you want me on that wall -- you need me on that wall. We use words like "honor," "code," "loyalty." We use these words as the backbone of a life spent defending something. You use them as a punch line. I have neither the time nor the inclination to explain myself to a man who rises and sleeps under the blanket of the very freedom that I provide and then questions the manner in which I provide it. I would rather you just said "thank you" and went on your way. Otherwise, I suggest you pick up a weapon and stand the post. Either way, I don't give a damn what you think you are entitled to!"

1. Apocalypse Now

" You smell that? Do you smell that? ... Napalm, son. Nothing else in the world smells like that. I love the smell of napalm in the morning. You know, one time we had a hill bombed, for twelve hours. When it was all over I walked up. We didn't find one of 'em, not one stinkin' dink body. The smell, you know that gasoline smell, the whole hill. Smelled like ... victory. Someday this war's gonna end ... "

sábado, janeiro 15, 2005

What Lies Beneath (2000)

"What Lies Beneath" começa com cerca de uma hora de truques e tácticas fáceis para assustar o espectador, através de fantasmas e fenómenos paranormais, mas que acabam por tornar a história completamente absurda, apesar de lá pelo meio, ainda proporcionar alguns bons momentos de cinema. O filme passa o tempo todo a pedir por um twist final que explique todos aqueles acontecimentos. Ou seja, não ocorre um twist que não fosse esperado. O argumento sofre disso e, devido às qualidades de Harrison Ford e Michelle Pfeiffer, o filme não passa de uma sombra do seu elenco. O fim acaba por ser previsível e mais engraçado que assustador. Faltou a este filme, alguém como Hitchcock que tivesse mudado o guião, tirando todas as partes sobre-naturais que tornam o filme absurdo. Ou então, um estudo melhor do sobre-natural na psicologia humana. Mas nem foi peixe, nem foi carne. Como já referi, Michelle Pfeiffer está muito bem no filme; ela é convincente e evita o maior problema dos actores nos filmes de terror: O "overreacting"! Harrison Ford prova não saber o que é falhar, mas, no entanto, não têm aqui uma representação por aí além. Concluindo, "What Lies Beneath" tenta atingir o nível de filmes como "Rear Window" ou "Psycho", mas o fim é simplesmente péssimo. Como tal, não passa dum filme dispensável para os amantes do género.

quinta-feira, janeiro 13, 2005

Cellular (2004)

Uma chamada de um número desconhecido no seu telemóvel leva um jovem a uma corrida contra o tempo para salvar a vida de um mulher. Sem conhecer nada de Jessica, à parte da sua voz de pânico e terror do outro lado da linha telefónica, Ryan é rapidamente lançado para um mundo de suspeição e morte com o intuito de encontrar e salvar a mulher do outro lado da linha. Depois de N comparações com "Phone Booth", filme recente que ficou na retina de muitos fãs Hitchockianos, foi quase obrigação ver este. Mas para grande pena minha, a comparação só serviu mesmo para publicitar e comercializar o filme. Sendo que o filme serviu para publicitar o Nokia 6600 e a Porsche. Colocando de parte, ao fim dos primeiros 15 minutos, a hipótese de sair algo de especial deste filme, desliguei o cérebro. E depois disso sim, posso considerar "Cellular" um filme divertido, com representações Q.B de alguns nomes sonantes de Hollywood (Jason Statham, William H. Macy, Kim Basinger), momentos engraçados e uma energia positiva e fluída durante todo o filme. No entanto, é daqueles filmes que acaba como todos nós, amantes de cinema, não gostamos: [SPOILER ALERT] Os "Maus" presos ou mortos, os "Bons" safos e vivinhos da silva, com todos felizes para o resto da vida, tudo isto decidido num final cheio de acção mas pouca cabeça. Por falar em pouca cabeça... onde é que uma professora de biologia de 10º ano tem casarão, Jipes da Porsche, mordoma em casa etc... etc...? Resumindo, o filme vale mesmo pelas inúmeras gargalhadas derivadas dos diálogos e das cenas de acção. Argumento, esqueçam.

terça-feira, janeiro 11, 2005

Sorte Nula (2004)

Alberto pretende fugir com o amor da sua vida. Ele já fez as malas, tem os bilhetes na mão e nada o vai parar. Mas o seu maior inimigo está á espreita: quando alguém tem uma sorte nula, o impensável acontece e o seu destino é imprevisível. Se juntarmos a esta sinopse, um elenco com Isabel Figueira, Carla Matadinho, Bruno Nogueira, Rui Unas e António Feio, entre outros, poderíamos sem qualquer problema afirmar que este filme tinha tudo para se tornar numa autêntica revolução no cinema português e num enorme sucesso a nível de bilheteiras. Em relação ao sucesso comercial, este realmente superou e muito os seus objectivos. Num único mês, mais de 50 mil espectadores nas salas de cinema portuguesas. Mas quanto ao filme em si... bem podemos afirmar que o problema de Sorte Nula não foi a falta de dinheiro, mas sim a falta de cinema.

Enormes (Enormes mesmo, do tamanho dos seios da Carla Matadinho que, por falar nisso, aparecem e bem no filme, mesmo sendo uma cena completamente desnecessária para o fio condutor do filme) buracos no argumento, apesar de o filme ser quase todo uma tentativa de explicação do que aconteceu nos primeiros minutos, efeitos estilísticos que rompem ainda mais a sobriedade e coesão do resto e personagens transformadas em autênticas peças de tabuleiro a fingir de gente, o que não deu nem um centímetro de profundidade dramática ao filme. Assim sendo, podemos mesmo afirmar que todo este sucesso em volta de Sorte Nula, foi mesmo devido ao seu maravilhoso elenco (não falando em cinema mas sim de popularidade mediática, cada um no seu meio) e de uma fabulosa operação de marketing, envolvendo esse e outros aspectos negativos da história do cinema português.

O argumento, tirando todos os "plot holes" e mania "nacional" das superficialidades, é bastante interessante, numa linha muito ligada ao cinema americano independente, de destinos cruzados, enredos repletos de surpresas e personagens com segredos escabrosos por trás. Nada do que inicialmente conhecemos das personagens se mantém intacto até ao fim. Todos têm verdades escondidas e ninguém confia plenamente em ninguém. Este é sem dúvida alguma, o filme mundial com mais encornanços por minuto quadrado! A banda sonora é do pior, chegando mesmo a ser repetitiva, apesar das poucas vezes em que é usada. Safa-se "O Mundo ao Contrário" dos Xutos e Pontapés. Podia, realmente, ter sido o primeiro passo na revitalização do cinema português. Digo isto sem ter visto ainda "Os Imortais". Mas a verdade, é que não foi. Mas se criticarmos "Sorte Nula", num panorama nacional, a verdade é que este não deixa de ser uma boa surpresa, apesar de ter ficado muito além do que podia ter sido. O fim acaba por surpreender o espectador, o que é sempre positivo e julgo nunca ter visto num filme português.

segunda-feira, janeiro 10, 2005

Cheers (S1/1982)

A melhor série de sempre com "piadas de ocasião". Com diálogos deliciosos, representações talentosas e uma infindável imaginação por parte dos autores, Cheers, originalmente criada em 1982 e que durou 13 épocas, continua ainda nos dias de hoje, muito fresca e extremamente divertida. Com o lançamento dos DVD's da Primeira Temporada (sem legendas em português, o que é um forte mau odor para muitos que os iam certamente comprar), tive oportunidade de ver as origens desta maravilhosa série, que aprendi a "amar" na Sic Gold (agora Sic Comédia), mas em temporadas finais. E é esta primeira temporada que realmente dá o impulso para toda aquela década de risos e gargalhadas constantes. A relação amor-ódio entre Sam (Ted Danson) e Diane (Shelly Long), o sempre confuso "Coach" Ernie, o homem que passa a vida a beber cerveja, Norm, a empregada mais irritante da história da televisão, Carla e, claro, o carteiro Cliff Clavin, que sabe tudo sobre o que não interessa a ninguém, torna esta imensa "familia" numa das mais memoráveis da história da televisão.

São 22 episódios os episódios desta primeira temporada, cada um com a sua própria história, nunca cansativos e que só pecam por não terem cada um, duas horas de duração invés dos habituais 25 minutos. É por estas e por outras que Cheers foi considerada recentemente por uma revista norte americana, a sitcom de humor mais marcante da década de 80. Os seus 4 Emmy's para melhor série televisiva nessa década, certamente ajudaram ao sucesso desta. Os Extras são poucos e resumem-se a 20 minutos de alguns dos momentos mais marcantes desta temporada. Esperava por algumas entrevistas ao elenco e claro, os famosos bloopers que não devem ter sido poucos. Pode ser que em próximas temporadas, melhorem este aspecto. Já não consigo esperar em colocar as mãos na segunda e terceira temporada, que já sairam em DVD. Recomendo a todos que façam o mesmo. Porque "às vezes, queremos ir onde todos sabem o nosso nome"!

domingo, janeiro 09, 2005

The Grudge (2004)

Na capa vemos: "Scary Movie"! Scary Movie? Até o próprio "Scary Movie" assustou-me mais! Quando vamos ver um filme de terror, o mínimo que o filme pode fazer por nós é pregar-nos uns 2 ou 3 sustos valentes, meter-nos medo por instantes. Mas não, neste filme, não há mesmo um único momento que nos faça tremelicar um bocado. Nunca tive tão calmo num filme de terror. E fiquei surpreso por tal ausência de qualidade. Tudo porque, apesar de "The Grudge" ser um remake americano de um dos maiores exitos japoneses do género (e ao ser remake perde logo metade da qualidade do original), era realizado exactamente pelo mesmo senhor que magistrou o verdadeiro, "Ju-On, The Grudge".

Sarah Michelle Gellar é Karen, uma estudante americana no Japão. E também ela não consegue nos transmitir aquele medo que deveria sentir. A história é sobre uma casa assombrada por fantasmas dos antigos moradores, uma família que tinha sido encontrada morta no sótão dessa mesma casa. Sabendo desses fenómenos, polícias japoneses encarregam-se do caso. No fim concluí, teria sido muito mais engraçada aquela hora e meia se tivessem chamado o Scooby-Doo e os amigos ou mesmo Bill Murray e os "GhostBusters"! No fim, percebemos a história. E sim, faz sentido. Mas se pensarmos que este é um filme de terror, nada faz sentido. Onde está a nudez, o sangue, o gore, a diversão característica dum filme de terror? E eu, que mal vi "Sam Raimi" nos créditos como produtor executivo, pensei que ia sair dali algo de especial, com humor e sangue, muito sangue. Um filme para ver de braços cruzados.

terça-feira, janeiro 04, 2005

Open Water (2003)

Baseado em factos reais, "Open Water - Em Águas Profundas" é a história de um jovem casal, Susan (Blanchard Ryan) e Daniel (Daniel Travis), que gozam umas merecidas férias numa ilha paradisíaca – o excesso de trabalho começara a reflectir-se na sua relação. Na manhã seguinte, o casal prepara-se para embarcar no "Reef Explorer" com um grupo de veraneantes, para um mergulho no recife. Recebidas instruções para o mergulho, o casal afasta-se do grupo para explorar o fundo do mar. Devido a uma série de pequenos mal-entendidos e uma equipa distraída, o casal é acidentalmente deixado para trás. O que acontece a seguir é o pior cenário possível: com frio, abandonados a milhas da costa, à deriva num mar infestado de tubarões…

"Open Water - Em Águas Profundas" é um terrível retrato dos mais primitivos receios do Homem, do instinto de sobrevivência, lembrando-nos sempre a fragilidade e vulnerabilidade do Homem face ao imenso e indiscriminado poder da natureza. Até aqui tudo bem. Mas o que podia ter acabado como um filme de culto para os amantes do género, acabou por se tornar um "wannabe" de "Blair Witch Project" mas no meio do oceano. Apesar de bastante curto (pouco mais de 1 hora), o filme acaba por se tornar aborrecido. Tentam matar essa sensação com conversas da "treta". Faltou-lhe uma narrativa ao nível da premissa, para este se tornar um verdadeiro filme de terror. Salva-se pelo grande final, inesperado, mas muito, muito elegante e que nos deixa a pensar. Mesmo com baixo orçamento, este filme podia ter sido muito melhor. Faltou-lhe no argumento a genialidade da ideia.

segunda-feira, janeiro 03, 2005

Finding Neverland (2004)

Um bom exemplo de como "isco" claro para os óscares, também pode ser um bom filme. O filme foi dado como terminado em meados de 2002 e só agora estreou. Estranho? Não... já é costume! "Baseado em factos reais" (código para "Inventamos 3/4 do filme!), o filme conta-nos a história do aparecimento de Peter Pan, pelo autor da obra, J.M.Barrie (um Johnny Depp que não sabe fazer maus papéis). "Finding Neverland" é um filme sobre Peter Pan, é verdade. Mas não é um filme para crianças. Estas ficaram totalmente aborrecidas se vissem este filme. E porquê? Porque este filme é sobre a criança que há dentro de cada adulto. É sobre o poder da imaginação, um poder tão forte que é capaz de nos dar asas e levar-nos para um mundo onde tudo o que desejamos poderá acontecer. É este argumento mágico e um conjunto de belíssimas interpretações que tornaram este filme, para muitos, o sucesso do ano. Quanto a mim, não é um filme biográfico "parvo" mas também não ascende à categoria de Obra-de-Arte. Faz-nos sentir bem, pensar no amor, na vida e na morte, mas faltou-lhe uns "pózinhos mágicos" para ser obra no género. De realçar os desempenhos das personagens mais novas, bem como de Kate Winslet e, como não podia deixar de ser, Johnny Depp, sem dúvida alguma, um dos melhores actores da actualidade. A quimíca entre Johnny Depp e Freddie Highmore (o pequeno Peter que não queria acreditar), é simplesmente brilhante. Para mim, uma das melhores, senão a melhor, dupla do ano no cinema.

domingo, janeiro 02, 2005

A Dirty Shame (2004)

Sylvia é uma mulher na casa dos quarenta, sem auto-estima e proprietária de uma loja de conveniência. Após uma queda e um galo na cabeça começa a sentir impulsos selvagens e anseios sexuais que não consegue controlar. Ela e toda a população de uma pequena cidade, esquilos incluídos. É o descontrole total. Bem... a sinopse bastava certo? Sabendo isto, ainda fui ver o filme. Tinha Johnny Knoxville, dos Jackass, num dos papéis principais, e como grande admirador do mesmo, não podia deixar de o ver. Mas a verdade é que mais valia ter estado quieto. Meus ricos 5 €!

Existe uma coisa que se chama a "má gargalhada". Essa é aquela que sai quando rimo-nos da descrença e da estupidez que estamos a ver e não da piada da situação. E este filme são só "más" gargalhadas. Para grande surpresa minha, apanhei mais de meia-sala no Corte-Inglês. O que não foi surpresa, foi ao fim de 20 minutos de filme, já metade dessa metade ter "fugido" do filme, situação essa que também provocou "más" gargalhdas na plateia. "A Dirty Shame" é um filme sem piada, repetitivo e extremamente baseado em piadas sexuais porcas, mal usadas. Diálogos inconsistentes, argumento nulo e filme absurdo. Vale pelo cameo de David Hasselhoff (que aparece a defecar numa casa de banho de um avião, para não fugir à linha do filme, excreção esta que congela ao sair do avião, acerta na cabeça de uma idosa e a torna tarada sexual.). Não, o que disse entre parentes, não é mentira. Acontece mesmo no filme. Resumindo, lixo, que só valeu pelas dezenas de reacções da plateia, que tornou esta, uma experiência única.

sábado, janeiro 01, 2005

Mystic River (2003)

Este impressionante drama de Clint Eastwood é uma história de crime, culpa e punição. A história não é apenas mais um thriller policial, semelhante a tantos outros. Além dos elementos típicos do policial, o filme encontra o seu núcleo narrativo nas relações entre os três personagens principais e a complexa teia de emoções que os liga. Na sua melhor forma, Clint Eastwood desenvolveu este drama de modo cativante, fazendo-nos partilhar os universos pessoais das suas personagens e experimentar as suas dúvidas e sofrimento.

Uma narrativa deste gabarito necessitava de um elenco à altura e Eastwood encontrou os protagonistas perfeitos em Sean Penn, Tim Robbins e Kevin Bacon. Cada um deles ilustra de forma brilhante as muitas facetas das suas personagens, tendo Penn e Robbins conquistado, respectivamente, o Óscar para Melhor Actor e para Melhor Actor Secundário. Faltou-lhe o de melhor Filme, que seria justo quanto a mim, pois não aguento com a triologia "Senhor dos Aneis", e muito menos com a terceira parte, que venceu praticamente tudo o que havia para vencer nesse ano de 2003. Uma obra de grande qualidade, qualidade essa cada vez mais rara no circuito comercial. Um filme que nos deixa as emoções à flor da pele, restabelecendo Eastwood como um dos mais sólidos e ousados autores de Hollywood.