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John McClane é uma daquelas poucas personagens intemporais intimamente ligadas a quem o representa. McClane é e só pode ser Willis, num "one-man-show" que revolucionou a indústria e o género, de uma forma única, onde o estilo descontraído e saudavelmente caótico de Bruce acaba por levar a narrativa e a acção às costas, e onde ver McClane, por pior que seja a "storyline" é puro deleite cinematográfico. É o gosto pela "velha escola", e a confirmação que o velho relógio analógico ainda bate o digital. Porque qualquer uma daquelas mordazes punchlines de McClane bate por larga vantagem qualquer esforço terrorista e tecnológico dos vilões.
Assim, é com orgulho que senti no final da sessão que o espiríto "Die Hard", ao contrário do que temia, permaneceu intacto em "Live Free or Die Hard". Tal como disse à uns meses atrás, "Die Hard" é muito mais do que pura acção e adrenalina. É classe e um humor inconfundível, é o drama assentar no estilo único e carismático de John McClane. É contar com esse dom para se destinguir do banal filme de acção. E meus amigos, ou "Die Hard" é "O" blockbuster de acção do Verão, ou vamos ter um Verão absolutamente excepcional.
Com uma realização frenética de Len Wiseman, Willis é colocado no meio de um tiroteio com menos de dez minutos de fita. Com o ambiente e contexto extremamente hiperbolizados, é nesse momento que percebemos que vamos ser presenteados com doses mega de entretenimento, onde as clássicas cenas de acção irão ser tão complexas, como eficazes. Com uma faceta crítica em relação à dependência global tecnológica vigente, bem como à ineficácia recente de resposta a situações de crise do Governo Norte-Americano, “Live Free or Die Hard” não é suficientemente chocante para reinventar – como o primeiro – o género, mas suficientemente exagerado e divertido para justificar o investimento feito, o risco corrido e, porque não, um novo capítulo.
Uma palavra de apreço ainda para Justin Long, que foi um adjuvante à altura de McClane, bem como para Maggie Q, uma gélida e sumptuosa vilã, com queda para o Kung-Fu. Já Timothy Olyphant (o futuro “Hitman”) acaba por parecer um chouriço com falta de picante, quando comparado com os predecessores Alan Rickman e Jeremy Irons. Diga-se, em abono da verdade, que a herança era pesada e que, McClane, como herói histericamente aclamado desde meados dos anos 90, ofuscaria qualquer “novato” que o confrontasse. Ainda por cima, quando em mais de duas horas de acção, McClane é a personificação cinematográfica do Coyote de “Road Runner”.
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