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Como que saído de uma banda desenhada, Clive Owen é em "
Atirar a Matar" a encarnação cinematográfica de um utópico progenitor de Bugs Bunny e Barb Wire, naquele que provavelmente será o filme mais
cool do ano. Sentado num banco público, a comer a sua cenoura, Mr.Smith é surpreendido por uma perseguição iníqua a uma mulher grávida. Usando a planta umbelífera como arma, despacha o primeiro - "
eat your vegetables" -, faz de parteiro, avia mais uns quantos e salta entre prédios com um bebé ao colo. Não sabia ele que esta pequena aventura era apenas o início de uma gigantesca conspiração, que só terá fim quando o recém-nascido for assassinado. Felizmente, e ao contrário do que é costume na sétima arte,
Smith era o homem certo, no sítio certo à hora certa!
"
Shoot 'Em Up" é a génese de um novo género, moderno e picante, que mistura o cinema de acção de John Woo com o humor negro e mordaz de Kubrick em "
Dr.Strangelove", se bem que em doses extremamente comerciais e com outros propósitos. Um "
one-liner movie" repleto de adrenalina, onde o estilo comanda e delimita, sem vergonha, a absurda substância. Hora e meia em alta rotação, sem limites nem barreiras, onde cada bala é um argumento conveniente para justificar uma morte ou situação tão ilógica e irrisória como divertida e excêntrica. E como qualquer filme insolentemente descontraído, é preciso entrar na "boa onda" de Clive Owen e Paul Giamatti para usufruir na totalidade da sua chama e do seu entusiasmo.
Conseguido isso, dificilmente será possível resistir aos deliciosos monólogos de Owen ou ao encanto proibido de testemunhar um suposto herói arrasar com um simples transeunte que nunca coloca os piscas ou com uma daquelas mães que gosta de gritar com os filhos no meio da rua. Aliás, a impertinência excessiva de Smith faz com que "
Do you know what I hate?" seja o mote para mais uma gargalhada garantida, que atinge valores quase sobranceiros numa sequência final de bradar aos céus. Em suma, "
Shoot 'Em Up" é um daqueles "
guilty-pleasures" cinematográficos sem qualquer tipo de pretensiosismos, e onde apenas a leviana prestação de Monica Bellucci destoa de uma dupla tão "
baril" como a protagonizada por Owen e Giamatti e de uma realização tão "bacana" como a proporcionada pelo desconhecido Michael Davis, que assina também o argumento.